O Papa inaugurou esta segunda-feira os trabalhos de uma inédita reunião pré-sinodal com jovens de todo o mundo, para preparar a próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, e defendeu que os jovens têm de ser levados “a sério”.
“Não basta trocar algumas mensagens ou partilhar fotos simpáticas. Os jovens têm de ser levados a sério!”, disse, na sua primeira intervenção, após ter recebido no Pontifício Colégio Internacional “Mater Ecclesiae”, de Roma, com momentos de oração e cânticos.
Francisco advertiu para uma cultura que, apesar de “idolatrar a juventude”, acaba por ignorar os mais novos e “exclui muitos jovens” da possibilidade de serem “protagonistas”.
O encontro congrega cerca de 300 participantes, em Roma, incluindo três portugueses, até 24 de março.
O Papa convidou a “falar com coragem” e a “escutar com humildade”.
“Cada um tem o direito de ser escutado, todos têm o direito de falar”, acrescentou.
Francisco brincou com os 15 mil jovens que já estão ligados aos trabalhos, através das redes sociais, em todo o mundo, acompanhando os trabalhos “em vez de ir dormir”.
A saudação inicial destacou a “grande variedade de povos, culturas e religiões” representada nesta reunião pré-sinodal, com crentes e não-crentes.
“Fostes convidados porque o vosso contributo é indispensável: temos necessidade de vós para preparar o Sínodo que em outubro reunirá os bispos sobre o tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’”, declarou o Papa.
O pontífice saudou a “força” que os jovens têm para “dizer as coisas”, para “rir e chorar”, enquanto os adultos se habituam, muitas vezes, a encolher os ombros e a dizer “o mundo é assim”.
“Demasiadas vezes se fala dos jovens sem os interpelar”, advertiu.
Francisco lamentou que se evite o encontro “cara a cara” com os mais novos, preferindo um discurso abstrato.
“A juventude não existe, existem jovens, histórias, rostos”, precisou.
O discurso lamentou a existência de pensamentos que defendem uma “distância de segurança” face aos jovens, admitindo que estes não são propriamente o “prémio Nobel da prudência”, o que provocou o riso da assembleia.
Francisco reforçou as suas preocupações com o nível do desemprego juvenil e a marginalização dos jovens da vida pública, obrigados a “mendigar ocupações” que não garantem um futuro.
“Isto é um pecado social, a sociedade é responsável por isto”, denunciou.
Durante esta reunião pré-sinodal é possível participar nos trabalhos enviando o resultado da reflexão a um dos grupos linguísticos, através da página oficial, ou no Facebook.
O Vaticano estuda, neste momento, as propostas enviadas pelas conferências episcopais e as mais de 221 mil respostas ao questionário que foi disponibilizado na internet, das quais cerca de 20% são relativas a não-católicos.
O Papa citou algumas destas respostas, que mostram “alguns perigos” elencados por uma jovem, como o álcool, a droga, “uma sexualidade vivida de forma consumista”, por causa da “falta de pontos de referência”.
“Temos de aprender, na Igreja, novas formas de presença e de proximidade”, admitiu o pontífice.
“Temos necessidade de ousar caminhos novos”, apontou Francisco, sem medo de “sair para as periferias existenciais” ou cedendo ao “veneno” da “lógica do ‘sempre se fez assim’”.
O Papa espera que deste encontro surjam indicações para uma Igreja de rosto jovem, não “rejuvenescido artificialmente”, com respeito pelas “raízes”, os “velhos, os avós”, sem os descartar.
“Asseguro-vos que o vosso contributo vai ser levado a sério”, concluiu.
Dos trabalhos vai sair um documento que será entregue ao Papa a 25 de março, Domingo de Ramos e Dia Mundial da Juventude, jornada que este ano é celebrada a nível diocesano.