A Proteção Civil está a ultimar um manual de instruções sobre como gerir o risco da Covid-19 no combate aos incêndios florestais. O documento reflete as recomendações das autoridades de saúde, e tenta adequá-las à realidade de uma época de incêndios.
Desde a proteção individual até aos espaços onde todos dormem ou comem durante o combate a um incêndio, tudo terá novas regras para reduzir os riscos de contaminação. É um plano de mitigação Covid-19, dentro do habitual plano operacional de combate aos fogos.
Numa primeira fase, a prioridade é a proteção individual de cada um dos operacionais e da respetiva equipa a que pertencem. O melhor exemplo são as Equipas de Intervenção Permanente, compostas por cinco elementos, que, não só devem possuir todo o equipamento de proteção individual, como devem adotar as praticas de distanciamento recomendadas.
A maior preocupação centra-se na mobilidade destas equipas, em especial na exiguidade das viaturas em que se fazem transportar.
Num outro capitulo, o documento aborda o chamado pré-posicionamento de meios, bem como a instalação das bases de apoio logístico. E aqui, o desafio afigura-se bastante mais exigente.
Todas as regras de higienizarão e distanciamento devem ser aplicadas nos espaços onde os operacionais pernoitam, comem, descansam, ou recebem as orientações do comando. Sempre que possível estes espaços serão alargados, ou até, preferencialmente, multiplicados, permitindo uma maior separação entre pessoas e serviços.
Os novos procedimentos estendem-se às viaturas, com indicações concretas para a sua limpeza antes e depois de cada serviço, salvaguardando uma troca segura de equipas.
Acabar com as refeições "à volta do tacho"
A alimentação dos operacionais terá este ano um formato completamente diferente. As refeições terão de ser individualizadas, distribuídas em embalagens fechadas, tal como todos os utensílios e equipamentos devem estar protegidos e serem descartáveis.
Tal como terá de acontecer com as dormidas, também nas refeições deve haver maior distância entre as pessoas, um especial e reiterado cuidado com a limpeza e, se possível, o desencontro de horários.
No que diz respeito à organização das estruturas de combate, esta instrução operacional da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil prevê também regras para os postos de comando instalados em teatros de operações.
Ficam definidas, por exemplo, as circunstâncias a partir das quais passa a ser exigida a presença de um delegado de saúde no posto de comando.
O mesmo documento incluiu diversas recomendações para a evacuação de povoações. Também neste caso as boas práticas de prevenção Covid-19 sugerem uma readaptação dos modelos que têm sido seguidos nos últimos anos.
Novos espaços para acolhimento das pessoas que tenham que ser retiradas de suas casas e novos procedimentos de transporte dessas pessoas. Até mesmo o programa Aldeia Segura-Pessoas Seguras poderá sofrer ajustes, nomeadamente no que diz respeito às zonas de concentração de pessoas.
O maior problema está no transporte dos operacionais
"Encaixar" um plano Covid-19 na Diretiva Nacional Operacional para os Incêndios 2020, tendo também em consideração os planos de contingência de cada uma das quase uma dezena de entidades envolvidas, é um desafio complexo. Mas entre tudo o que é preciso fazer, o maior problema parece estar no transporte dos operacionais.
Esta semana, numa videoconferência organizada pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Miguel Cruz - o comandante operacional do agrupamento distrital do Sul da Proteção Civil - reconheceu que "o fator critico é a questão dos transportes, não só nos veículos mas também nos meios aéreos de combate, onde o espaço ainda é mais exíguo".
E se a solução poderia passar pelo desdobramento das equipas, aí surge um outro problema, porque "não existem meios suficientes que permitam a dispersão dos operacionais das equipas. Existe uma multiplicidade de veículos, alguns com capacidade até sete elementos e outros de menor dimensão. Mas importa garantir a funcionalidade da equipa, e como tal, temos que assegurar a mitigação na altura do transporte".
Já no terreno, em pleno combate, Miguel Cruz considera que as regras serão mais fáceis de gerir "no teatro de operações os elementos que constituem cada equipa, e os grupos e as brigadas acabam por estar mais separados na linha de combate. Nesse caso, o nível de distanciamento social acaba por estar mais salvaguardado".
Questionado nesta videoconferência sobre a possibilidade dos operacionais serem sujeitos a testes rápidos à Covid-19, sempre que tenham de entrar em acção, Miguel Cruz diz que isso "seria muito complicado, sobretudo, no caso dos bombeiros em que há uma rotação significativa dos efetivos. É um processo que temos de ver com a Direcção-Geral de Saúde, em função da disponibilidade e capacidade de execução dos testes e da obtenção posterior dos resultados.
Este oficial do Comando Nacional de Operações sublinha que a testagem do efetivo só seria eficaz se fosse realmente diária, "porque um teste dá-nos o cenário na data e à hora a que foi feito, mas não nos permite ter uma perceção sobre quem pode estar ou não infetado no dia seguinte".