Foi ele que levantou o Congresso. Foi, em todos os momentos, um foco de atenções no Pavilhão Rosa Mota e um trunfo ostentado pelo PSD. O discurso foi destacadamente um dos que provocou maiores aplausos e reações positivas. Além de autarca da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas é agora o número um do Conselho Nacional do PSD.
A relevância política é reconhecida embora o presidente da Câmara de Lisboa se afirme como “um simples autarca”.
Em entrevista à Renascença, Carlos Moedas garante que não vai ser um “obstáculo” para a solução do novo aeroporto de Lisboa, mas quer ser tido em conta e espera por um “convite do Governo”. Quanto à vida interna do partido com a nova liderança de Luís Montenegro, o antigo comissário europeu destaca a “união” como condição fundamental para o partido voltar ao poder.
Este é um novo ciclo do PSD. É desta que o partido se vai unir para fazer uma oposição mais forte e assertiva?
É um Congresso que tem uma energia completamente diferente, sentimos que é diferente e que tem uma capacidade de união como há muito não se via.
Portanto, é com muita esperança que saio do Congresso, porque vejo essa união e ela é o ingerdiente chave para nós conseguirmos ganhar o país.
Que diferenças nota em relação a outros Congressos? Consegue ser mais explícito?
Talvez o número de pessoas que vieram até aqui. Falava há pouco com pessoas que nem sequer são do PSD, que estão apenas a observar.
Isso é muito importante porque as pessoas afastaram-se da política, ou a política afastou-se das pessoas. E pela primeira vez estou a sentir que há pessoas de fora da política que quiseram espreitar o Congresso porque estão preocupados com o país e sabem que precisam do PSD.
Sabem que precisam do PSD como alternativa desta governação. Isso é muito positivo.
Houve uma clara intenção de Montenegro de trazer pessoas de várias fações para a direção. Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz são vice-presidentes a dois anos ou é possível que saiam em rotura a meio?
São muito importantes e têm algo muito importante que Montenegro percebeu, que é a ligação entre a Europa e as autarquias.
Ter um grande parlamentar europeu como Paulo Rangel e ter um autarca como Miguel Pinto Luz é muito interessante e muito importante.
Daqui para a frente nós vamos ter muitos desafios que são resolvidos a nível europeu e aplicados a nível autárquico. É bom, são dois grandes vice-presidentes.
Mas têm um passado de crispação com Montenegro. Acredita que isso não vem ao de cima nos próximos dois anos?
Isso tem de lhes perguntar a eles, mas eu penso que não. Realmente Luís Montenegro fez um esforço enorme para nos unir a todos e isso é importante para o partido.
Cada um fará o que tiver a fazer. Do meu lado estarei sempre do lado da união, no sentido de dar apoio ao presidente do partido e de tentar que esse princípio da união seja basilar neste arranque do novo PSD. Sem isso não vamos conseguir realmente mudar o país.
É uma oposição que arranca a todo o gás por causa dos temas em cima da mesa, como o aeroporto. Segundo o Expresso, o dossier deixou de estar sob a tutela de Pedro Nuno Santos e passou para António Costa.
Se assim for, espera ser convidado pelo Primeiro-ministro para falar sobre o assunto?
Não tinha conhecimento disso, mas sim espero obviamente. Lisboa é uma parte integrante e essencial dessa negociação. O aeroporto é uma obra essencial para o país mas é em Lisboa.
Hoje em dia sabemos que estamos no limite, aliás já estávamos antes da pandemia, e por precisamos de uma solução e tem de ser rápida, não podemos passar mais dez anos a discuti-la. Eu, como presidente da Câmara, estarei sempre do lado da solução.
É uma solução a três tempos: Portela, Montijo e Alcochete. Não corremos o risco de ser uma obra demasiado complexa para que corra bem e rápido?
Bom, primeiro vamos ver qual é a porque pelos vistos a solução não é essa solução. Quando tivermos a solução, sobre quanto é que custa, como é que vai ser feita, sobre os detalhes técnicos.
Aí nós podemos tomar uma decisão. Aliás há um estudo de impacto ambiental que tem de ser apresentado. E portanto, nós podemos aí tomar decisões.
Deve ser uma decisão que é do Governo, mas consensualizada com a oposição e com o PSD, que é essencial. E com o presidente da Câmara da Lisboa, portanto eu espero ser convidado pelo Governo para receber formalmente essa informação com os detalhes para poder consensualizar.
Mas estarei sempre do lado da solução e nunca serei um obstáculo.
Ainda sobre oposição. O Chega apresentou uma moção de censura. É o momento para o PSD arrancar a todo o gás e votar a favor? Ou apresentar uma moção diferente?
Isso é uma pergunta que tem de fazer ao Luís Montenegro. Eu não faço comentários sobre o Chega nem sobre as atividades do Chega, nem sobre decisões que têm de ser tomadas dentro do partido.
Eu sou um simples autarca e estou focalizado em Lisboa e essa é minha focalização.
Não vou fazer comentários sobre moções de censura a nível nacional porque eu sou um político local.
Mas há necessidade de o PSD fazer uma oposição mais feroz? No mandato de Rui Rio falou-se muito de oposição civilizada e moderada, mas falou-se também da falta dela. É necessário Montenegro mudar o estilo de oposição do PSD?
Eu penso que Luís Montenegro tem um estilo muito próprio e é um estilo muito eficaz. Ele foi líder parlamentar e portanto é um homem que tem muita experiência política, tem uma grande assertividade e, ao mesmo tempo, é um homem que é capaz de ouvir.
A questão de fazer oposição é que hoje as pessoas estão cansadas da maneira como fazemos política. Por isso ela tem de ser assertiva, tem de ser ouvida pelas pessoas.
As pessoas hoje, no mundo digital em que vivemos, já não conseguem ouvir o ruído de tanta informação.
A comunicação vai ter de ser muito eficaz, com linguagem simples e direta sobre aquilo que não está a correr bem, por exemplo o caso da descentralização. Não está a correr bem e temos de explicar às pessoas porquê.
O caso da inflação. O Governo ainda não falou sobre o impacto que vai ter sobre a vida das pessoas. Como é que o PSD vai fazer? O que vamos fazer para isso?
A oposição tem de ser dura e assertiva, mas também construtiva para criarmos soluções para resolver os problemas.
É isso que as pessoas esperam de nós, não esperam uma guerra entre políticos a dizerem mal uns dos outros. Esperam soluções e nós devemos empurrá-las.
Passando para a governação da Câmara Municipal de Lisboa. Considera que a oposição continua a ter uma estratégia de desgaste?
Penso que a oposição em Lisboa ainda não admitiu que perdeu as eleições. Isso é óbvio perante as várias reuniões onde é visível que há ainda uma falta de consciência de que estar na oposição não é governar.
É natural que isso aconteça quando as pessoas estiveram 14 anos na liderança. Eu, como presidente, tenho de olhar para isso com alguma naturalidade.
Tenho de fazer tudo de forma magnânime, realmente estou a fazê-lo: criar pontes e consensos. Mas não posso deixar que aconteça o que a oposição quer, que é governar Lisboa.
Eu fui eleito para governar Lisboa e é isso que vou fazer, quer a oposição goste ou não.
Espero que as coisas vão mudando para melhor, mas até agora isso tem sido visível: uma oposição que quer governar e não pode. Quem governa é Carlos Moedas e a solução que ganhou. E as pessoas querem isso.
Muitas das medidas que aprovámos foi porque houve um esforço muito grande para conseguir consensos, como foi no caso dos transportes públicos gratúitos para os mais velhos e para os mais novos.
Isso foi feito através da minha capacidade de consensualizar e aí conseguimos. Noutras alturas parece que a oposição ainda não digeriu que perdeu as eleições, mas isso faz parte do processo.
Sobre um tema completamente diferente, mas sobre a cidade: o que é que se passa com o projeto da Feira Popular de Lisboa?
Nós temos um projeto de olhar para a Feira Popular como realmente a Nova Feira Popular. Hoje em dia faz muito mais sentido ter ali (em Carnide) um parque com equipamentos para as pessoas.
O conceito de Feira Popular hoje já não faz o mesmo sentido do que há 20 ou 30 anos atrás. Nós temos de repensar esse conceito.
Sobretudo temos de ter ali um parque verde com equipamentos para as pessoas. Faz muito mais sentido neste momento.
Mas não é um parque de diversôes? Não é o projeto apresentado pelo executivo do PS há alguns anos?
Esse projeto de um parque de diversões, a realidade é que nunca foi conseguido. Deve haver uma razão para isso, e a razão é que esse tipo de parques de diversão no centro de cidade não fazem o mesmo sentido que faziam no passado,
Podemos ter diversão. Podemos ter uma parte do parque com alguns equipamentos para esse tipo de diversão.
Mas não podemos ter um parque, como foi pensado de forma errada, como a Eurodisney. Isso não vai acontecer.
Esse tipo de empresas não estão a olhar para os centros da cidade, normalmente constroem fora do centro.
Temos de olhar para as necessidades da população, e eu acho que a população gostaria de ter é equipamentos para as crianças, jovens e para os mais velhos.