​Ministro quer "dar a volta às praxes". Federação académica recusa “policiamento”
06-03-2017 - 23:14

O estudo “A Praxe como Fenómeno Social” demonstra que as praxes devem ser valorizadas, mas vigiadas pelo Ministério do Ensino Superior, para que sejam apenas praticadas de forma consciente. Federação Académica de Lisboa rejeita legislação da praxe.

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O ministro do Ensino Superior defende a necessidade de “dar a volta às praxes” com mais “cultura e ciência”. A Federação Académica de Lisboa (FAL) recusa praticar praxes vigiadas.

Em reacção a um estudo conhecido esta segunda-feira, o ministro Manuel Heitor considera que é necessário “dar a volta às praxes”. Na integração dos estudantes, devem ser incluídos mais momentos culturais e científicos e acabar com a humilhação como tradição académica.

Manuel Heitor também alerta para o problema do “financiamento da indústria de bebidas alcoólicas a algumas destas praxes”, lembrando que o financiamento público a associações académicas "está totalmente regulado".

O ministro do Ensino Superior afirma que o estudo divulgado esta segunda-feira “mostra que as praxes estão enraizadas e que, por isso, temos que valorizar”.

Os investigadores defendem praxes prudentes e ponderadas. Por esta razão, sugerem que o Governo elabore um relatório anual nacional com base na informação recolhida nas várias instituições. O objectivo é encontrar soluções para os casos e problemas mais graves que forem verificados.

O estudo “A Praxe como Fenómeno Social”, promovido pela Direcção-Geral do Ensino Superior, aponta também para o dever do Governo acompanhar juridicamente os estudantes, que pretendam denunciar situações já consideradas crime, isentando-os de contas judiciais. Uma linha gratuita de apoio à vítima é igualmente sugerida.

Federação Académica de Lisboa rejeita praxes legisladas

O presidente da Federação Académica de Lisboa, João Rodrigues, recusa o “policiamento ou legislação” da praxe académica.

João Rodrigues, que esteve reunido com o ministro do Ensino Superior, defende que a praxe, como prática entre estudantes, não poderá nem ser legislada nem abusiva, alertando que as instituições devem contribuir para a sensibilização dos estudantes a praticarem praxes integrativas.

Em relação à inclusão de iniciativas de carácter cultural, científico e até desportivo, João Rodrigues concorda com o ministro do Ensino Superior, tendo sugerido a organização de “iniciativas, paralelas à praxe académica, onde estudantes que não se revejam neste modelo possam ter na sua plenitude modelos de integração”.

João Rodrigues contestou ainda um ponto apresentado no relatório, segundo o qual o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) está a ser usado como fonte de financiamento pública a actividades de praxe desenvolvidas por associações e federações académicas.

"Ao nível da academia de Lisboa esta prática não é de todo recorrente, são raros os exemplos em que isso acontece", disse.

Para o presidente da FAL, que disse ter tido a concordância do ministro na reunião desta segunda-feira sobre este ponto, "não deverá haver uma caça às bruxas neste momento ao financiamento das associações académicas".

"O financiamento já por si é reduzido para a panóplia de actividades que o associativismo tem. O que deverá haver é uma consciencialização de que esse financiamento deverá servir para actividades de cariz cultural, desportivo", afirmou.