EUA. Imigrantes ilegais que pediram asilo em igrejas ponderam sair
22-01-2021 - 14:27
 • Filipe d'Avillez

Entre as dezenas de pessoas que vivem há mais de três anos em igrejas para evitar serem deportadas, há pais de família e avós. Muitos continuam a desconfiar das agências de imigração, apesar da garantia de Biden de que as deportações serão suspensas.

Dezenas de imigrantes ilegais que se encontram em situação de asilo há mais de três anos nos Estados Unidos estão agora a ponderar sair e, em alguns casos, voltar para as suas famílias, depois de o novo Presidente Joe Biden ter assinado um decreto que suspende a deportação de imigrantes em quase todas as situações.

As autoridades americanas levaram a cabo uma onda de deportações de imigrantes ilegais, incluindo muitos que estavam nos Estados Unidos há dezenas de anos e que já tinham constituído família no país.

Muitos optaram por pedir asilo em igrejas, onde as autoridades raramente faziam rusgas e há dezenas de pessoas que estão a viver há mais de três anos naqueles locais.

Um exemplo é José Chicas, natural do El Salvador, que pediu asilo numa Igreja Batista na Carolina do Norte. Chicas vive nos Estados Unidos desde os 20 anos, é casado com uma cidadã americana e tem filhos que já nasceram no país. Chicas tem um passado de alcoolismo e de violência doméstica, mas desde essa altura deu mostras de dar a volta à sua vida e tornou-se pastor de uma comunidade evangélica na cidade de Raleigh, onde vive.

Não obstante, ele fazia parte do grupo de imigrantes ilegais, ou indocumentados, que estava sujeito a ser expulso do país. Para evitar esta situação, pediu asilo numa Igreja em Durham, perto de Raleigh, há três anos e meio, segundo a agência americana independente Religion News Agency (RNS).

Agora tudo mudou, uma vez que Joe Biden assinou um decreto logo nos primeiros dias da sua Presidência, que suspende a esmagadora maioria das deportações, com exceção para casos de terrorismo ou de ameaça à segurança nacional.

José Chicas já tomou a decisão de regressar à sua família mas muitos outros estão ainda cautelosos, embora otimistas, e aguardam indicações dos seus advogados para saber se será mesmo seguro sair. Para estes, pesa o historial da agência que lida com a imigração ilegal, ICE, que tem fama de ter enganado muitos imigrantes para os conseguir deter e expulsar do país, por exemplo, convidando imigrantes ilegais para ir a entrevistas na sua sede, supostamente para discutir a sua situação, mas detendo-os à chegada e deportando-os de seguida.

Entre os cautelosos está Juana Luz Tobar Ortega, uma avó de origem guatemalteca, que está a viver na Igreja Episcopal de Greensboro desde maio de 2017 para evitar ser deportada para longe da sua família.

O responsável da Igreja, Randall Keeney, habituou-se à presença da sua inquilina, mas mostr-se contente com a perspetiva de ela poder ir para casa. “Acho que seria a melhor coisa do mundo. Ela tem sido espetacular por aguentar viver nesta situação há mais de três anos”, diz, em declarações à RNS.

Segundo orgnizações que trabalham no apoio jurídico e material a estas pessoas, há cerca de 40 pessoas nesta situação nos Estados Unidos.