O Papa lembrou, de forma especial, os sírios na via-sacra das Jornadas Mundial da Juventude que decorrem em Cracóvia. “Abraçando o madeiro da cruz, Jesus abraça a nudez e a fome, a sede e a solidão, a dor e a morte dos homens e mulheres de todos os tempos. Nesta noite, Jesus e nós, juntamente com Ele, abraçamos com amor especial os nossos irmãos sírios, que fugiram da guerra. Saudamo-los e acolhemo-los com fraterno afecto e simpatia”, disse Francisco na homilia que fez aos jovens depois das meditações dos caminho de Jesus Cristo até à Cruz.
Num dia muito marcado pela meditação sobre o sentido do sofrimento e da cruz e ficou marcado logo cedo pela visita do Papa ao campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, Francisco começou precisamente por essas perguntas que inquietam o homem. “Onde está Deus, se no mundo existe o mal, se há pessoas famintas, sedentas, sem abrigo, deslocadas, refugiadas? Onde está Deus, quando morrem pessoas inocentes por causa da violência, do terrorismo, das guerras? Onde está Deus, quando doenças cruéis rompem laços de vida e de afecto? Ou quando as crianças são exploradas, humilhadas, e sofrem – elas também – por causa de graves patologias? Onde está Deus, quando vemos a inquietação dos duvidosos e dos aflitos na alma?”, perguntou o Papa.
“Há perguntas para as quais não existem respostas humanas. Podemos apenas olhar para Jesus, e perguntar a Ele. E a sua resposta é esta: ‘Deus está neles’, Jesus está neles, sofre neles, profundamente identificado com cada um. Está tão unido a eles, que quase formam ‘um só corpo’”, respondeu, acrescentando que “foi o próprio Jesus que escolheu identificar-Se com estes nossos irmãos e irmãs provados pelo sofrimento e a angústia, aceitando percorrer o caminho doloroso para o calvário”.
As 14 estações da via-sacra foram meditadas associando-as às 14 obras de misericórdia (sete corporais e sete espirituais), que o Papa também enunciou no seu discurso.
Primeiro as corporais: “Dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, visitar os enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos. Gratuitamente recebemos, demos gratuitamente também. Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada, a tocar a sua carne bendita em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, é perseguido, refugiado, migrante. Naquela carne bendita, encontramos o nosso Deus; naquela carne bendita, tocamos o Senhor. O próprio Jesus no-lo disse, ao explicar o «Protocolo» com base no qual seremos julgados: sempre que fizermos isto a um dos nossos irmãos mais pequeninos, fazemo-lo a Ele.”
Depois das espirituais: “Dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo, rezar a Deus por vivos e defuntos.”
“É no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo e no acolhimento do pecador que está ferido na alma joga a nossa credibilidade como cristãos”, afirmou o Papa, que fez questão de repetir a frase: É no acolhimento da pessoa marginalizada que está ferida no corpo e no acolhimento do pecador que está ferido na alma joga a nossa credibilidade como cristãos. Não nas ideias!”.
E pediu aos jovens: “Hoje a humanidade precisa de homens e mulheres, particularmente jovens como vós, que não queiram viver a sua vida pela metade, jovens prontos a gastar a vida no serviço gratuito aos irmãos mais pobres e mais vulneráveis, à imitação de Cristo que Se doou totalmente a Si mesmo pela nossa salvação.
Perante o mal, o sofrimento, o pecado, a única resposta possível para o discípulo de Jesus é o dom de si mesmo, até da própria vida, à imitação de Cristo; é a atitude do serviço. Se alguém, que se diz cristão, não vive para servir, não serve para viver. Com a sua vida, renega Jesus Cristo.”
O Papa não esteve com meias palavras e apontou aos jovens o caminho da cruz. “Jesus aponta-vos o caminho do compromisso pessoal e do sacrifício de vós próprios: é o Caminho da cruz. O Caminho da cruz é o caminho da felicidade de seguir a Cristo até ao fim, nas circunstâncias frequentemente dramáticas da vida diária; é o caminho que não teme insucessos, marginalizações ou solidões, porque enche o coração do homem com a plenitude de Jesus. O Caminho da cruz é o caminho da vida e do estilo de Deus, que Jesus nos leva a percorrer mesmo através das sendas duma sociedade por vezes dividida, injusta e corrupta.”
Francisco ressalvou que este caminho não é uma atitude sadomasoquista, mas a única via “que vence o pecado, o mal e a morte, porque desemboca na luz radiosa da ressurreição de Cristo, abrindo os horizontes da vida nova e plena”. E terminou pedindo aos jovens que nesta noite de sexta-feira façam uma profunda meditação pessoa sobre o caminho que querem fazer. Quanto a ele, Francisco gostava que os jovens fossem “semeadores de esperança” no mundo.
A Renascença com o Papa
Francisco na Polónia. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa