Houve um tempo, não muito longínquo, em que as sondagens eram uma coisa solene. Sabia-se que ia haver uma sondagem, todos se preparavam e, uns dias antes, começavam as fugas de informação.
Por fim, lá saiam os resultados. Os partidos comentavam comedidamente, os perdedores disfarçavam a cara de pau e diziam não ligar, os ganhadores disfarçavam a cara de festa e diziam não ligar. Depois vinham os especialistas explicar tudo tintim por tintim, dias a fio, demoradamente, como faz Passos com as velhinhas.
Agora não. Os tempos mudaram e sonda-se todos os dias, mais do que uma vez por dia até. Sonda-se por tudo e por nada, sem compromisso, só pelo prazer de sondar. Não há fome que não dê em fartura.
As sondagens diárias tornaram a política numa bolsa. Qualquer dia, na edição da manhã das televisões teremos uns jovens cheios de juventude - e de sono - a ler no teleponto:
“Hoje os principais partidos abriram em alta, e seguem a ganhar 0.4%, em linha com a tendência verificada nas principais praças mundiais. A extrema-esquerda saiu do vermelho a recuperar até aos 5,31 % em meia hora depois, de uma queda de 3,54 % na segunda-feira.”
A banalização dos palpites, com sondagens de manhã à noite, tem animado a Coligação, que anda consistentemente na frente.
Tivemos o volta atrás de Passos com o cheque para o FMI, que não era para o FMI, e Costa a quadrar o círculo, cortando as portagens que iam pagar os cortes que ia fazer na Segurança Social.
Mas as melhores notícias para a Coligação, e as piores para os Socialistas, chegam de um país onde um governo, que se comprometeu a adoptar medidas de austeridade, foi reeleito: a Grécia de Tsipras, um Tsipras 2.0 libertado das cangas do extremismo, rendido ao pragmatismo e pronto para continuar a social-democracia em Atenas - depois da breve interrupção do último ano.