A coordenadora bloquista, Catarina Martins, assegurou nesta quinta-feira que o Bloco de Esquerda vai assumir os "compromissos que contam", mas recusou "cheques em branco", avisando que um país justo não é obra de "equilibrismos parlamentares sem fôlego para grandes mudanças".
Catarina Martins discursava no encerramento do debate sobre o Programa do XXII Governo Constitucional, lembrando que a "clareza e cooperação maioritárias foram a grande força da última legislatura", mas que apesar de nesta legislatura a situação ser outra, os bloquistas estão disponíveis para a negociação.
"Este é o mandato do Bloco de Esquerda de sempre, fiel a um programa claro, sem fuga aos compromissos que contam nem cheques em branco", afirmou, depois de elencar as principais bandeiras com as quais o partido se apresentou a eleições, desde o investimento público, às questões laborais e à emergência climática.
A líder bloquista avisou que "um país mais justo não será obra de um ano, nem de dois, nem resultado de equilibrismos parlamentares sem fôlego para grandes mudanças".
"Esse caminho não se fará sem incomodar quem hoje vive do privilégio. Esta legislatura precisa de uma determinação maior para responder pelo salário, pela saúde, pelo ambiente. É tempo de ser exigente", concluiu.
Reiterando que "o PS preferiu governar sem acordos de maioria e obrigar-se assim à procura de apoios pontuais entre os partidos da oposição", Catarina Martins destacou que os socialistas disseram no parlamento "que o querem fazer à esquerda" e "ainda bem".
"Mas, senhor primeiro-ministro, as grandes prioridades implicam sempre determinação política plurianual. O Governo tem a responsabilidade de assumir e esclarecer as suas metas para a legislatura e temo que possamos sair deste debate sem saber de metas e formas de atuar", lamentou.
A coordenadora do BE começou por lembrar que o debate do programa do governo aconteceu em condições muito diversas do que foi há oito anos e mesmo há quatro anos.
"É com a maior preocupação que constatamos que os compromissos de investimento anunciados pelo governo no programa e neste debate não vão além do que já foi decidido na anterior legislatura", assumiu.
Se o executivo socialista "elogia as sementes" que foram lançadas "conjuntamente nos últimos quatro anos", Catarina Martins avisou que "não basta ficar a recolher frutos".
Estranho para o BE é que o Governo "venha ao parlamento evocar um grande debate e acordo de legislatura para a valorização dos salários, mas que será feito só na Concertação Social".
"Nem a Concertação Social é uma câmara alta do parlamento, nem o parlamento se pode desresponsabilizar das condições de trabalho e dos salários", insistiu, considerando que é na Assembleia da República "que medidas pelo emprego e pelos rendimentos do trabalho terão de ser aprovadas".
O Governo, na visão de Catarina Martins, "erra ao deixar o programa pelas intenções gerais, diminuindo este debate parlamentar", que acaba "sem vislumbre dos compromissos políticos tão necessários sobre o trabalho, como sobre a saúde ou sobre investimento".