“Ninguém escreve um diário para dizer quem é. Por outras palavras, um diário é um romance com uma só personagem.” Assim escreveu José Saramago no primeiro volume dos Cadernos de Lanzarote. Agora, chegará a 8 de outubro às livrarias portuguesas e espanholas o último diário da sua autoria, até hoje nunca publicado.
Foi escrito no ano em que José Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura, em 1998, e só agora será dado a ler. “Último Caderno de Lanzarote” é um livro inédito que vai agora para os escaparates com chancela da Porto Editora em Portugal e da Alfaguara no mercado espanhol.
Sairá em simultâneo nos dois mercados no início de outubro, cerca de um mês antes de Saramago estar em destaque na Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México onde Portugal será o país convidado de honra.
No ano do 20.º aniversário da atribuição do Nobel a Saramago, é editado aquele que foi o último diário que o autor de “Memorial do Convento” organizou.
Aquando da apresentação de Cadernos de Lanzarote V em Madrid, indica a editora portuguesa em comunicado, Saramago disse que “não sabia se teria tempo para concluir a tarefa” de escrever mais um diário. Em causa estavam as exigências de agenda que o Nobel tinha passado a imprimir à sua vida e escrita.
Verdade é que duas décadas depois, segundo a viúva e presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Rio, “este é o momento indicado para revelar estas reflexões e confidências”. Sobre a sua escrita diarística, Saramago já apontara no primeiro volume que “Escrever um diário é como olhar-se num espelho de confiança, adestrado em transformar em beleza a simples boa aparência ou, no pior dos casos, a tornar suportável a máxima fealdade”.
“Último Caderno de Lanzarote” põe um ponto final nos diários da autoria do Nobel português. Já editados estão cinco volumes, escritos entre 1993 e 1995, onde Saramago relata episódios do seu dia-a-dia, apresenta reflexões sobre temas da atualidade e revela alguns livros em que estava a trabalhar. Na sua escrita há também notas sobre outros autores e livros, prémios, receções e cartas de leitores.
Recentemente, a Porto Editora tinha também reeditado um outro livro do autor de “Ensaio sobre a Cegueira”, o texto dramático “A segunda vida de Francisco de Assis”, publicado originalmente em 1987. A obra apresenta reflexões “sobre o capitalismo, as chefias, a política, as eleições, a bolsa, as valorizações e desvalorizações dos produtos e das pessoas”, aponta a editora em comunicado.
Antes e depois da morte de Saramago tinham sido editados outros dois inéditos do escritor. Em 2014 chegou às livrarias o romance inacabado “Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas". Em 2011, foi editado postumamente “Clarabóia”, o romance inicial de José Saramago.