Duas organizações não-governamentais (ONG) indicaram que o Irão executou pelo menos 834 pessoas no ano passado, mais 43% em relação a 2022 e o valor mais elevado desde 2015.
"O número de execuções explodiu literalmente em 2023", disseram as ONG Iran Human Rights (IHRNGO) e Ensemble contra la peine de mort (ECPM), no 16.º relatório sobre a pena de morte no país.
"Esta é a segunda vez em 20 anos que o número de execuções ultrapassa o limiar de 800 por ano", salientaram as organizações, denunciando um "número aterrador".
As execuções no Irão - um dos países que mais executa, juntamente com a China e a Arábia Saudita - são realizadas por enforcamento e estrangulamento.
Em 2023, pelo menos 22 mulheres foram executadas na República Islâmica do Irão, o número mais elevado dos últimos 10 anos, referiram as ONG, no mesmo relatório.
Em 2015, as autoridades iranianas executaram 972 pessoas, de acordo com a IHRNGO, sediada na Noruega, e a ECPM, com sede em Paris.
Neste relatório de 100 páginas, estas ONG acusam o Irão de utilizar a pena de morte como "instrumento de repressão política", na sequência do vasto movimento de protesto no país.
Este movimento foi desencadeado pela morte, em setembro de 2022, de Mahsa Amini, uma mulher curda iraniana de 22 anos, três dias depois de ter sido detida pela polícia da moralidade por usar um véu que não lhe assentava bem.
A família e os ativistas dos direitos humanos afirmaram que Mahsa Amini foi espancada até à morte, o que é negado pelas autoridades iranianas.
As manifestações, que abalaram o regime da República Islâmica durante várias semanas, acalmaram agora perante uma repressão que provocou a morte de centenas de pessoas, disseram grupos de defesa dos direitos humanos, e milhares de detenções, segundo a ONU.
"Criar o medo na sociedade é a única forma de o regime se manter no poder e a pena de morte é o instrumento mais importante", declarou o diretor da IHRNGO, Mahmood Amiry-Moghaddam, em comunicado.
O relatório não incluiu nas estatísticas "pelo menos 551 pessoas mortas durante manifestações ou outras execuções extrajudiciais dentro e fora das prisões", acrescentou.
De acordo com as ONG, pelo menos oito manifestantes estavam entre os executados em 2023, seis dos quais tinham sido detidos em ligação com as manifestações e condenados.