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Os líderes do PSD e da CDU debateram este sábado na RTP, à distância de 300 quilómetros, um nos estúdios do Porto e o outro em Lisboa. Luís Montenegro diz que governa com maioria relativa, Paulo Raimundo garante que "não é por falta da CDU e do PCP que há instabilidade governativa". Mas os pensionistas tiveram um papel central neste embate que esteve para não acontecer.
"Serei primeiro-ministro se for escolhido pelos portugueses e ganhar as eleições, e nas condições em que os mandatos na Assembleia da República me puderem dar condições de governabilidade. Que podem ser com a maioria dos deputados da AD ou com maioria relativa", declarou o secretário-geral do PSD.
Luís Montenegro sublinha que "não seria a primeira vez que o PSD governa o país nessas condições. Aconteceu com Cavaco Silva, em 1985, mas já aconteceu com primeiros-ministros do PS".
O líder social-democrata garante que será primeiro-ministro "se conseguir vitória eleitoral e tiver mais um voto". Após a insistência do moderador e de alguns momentos de silêncio, Montenegro não esclareceu o que fará se o PS ganhar sem maioria absoluta e for preciso viabilizar um governo de Pedro Nuno Santos.
"O que digo é: apresento-me para ganhar as eleições e resolver os problemas do país", referiu.
Já o secretário-geral do PCP, que integra a coligação CDU nas eleições legislativas de 10 de março, começou por dizer que "seria uma hipocrisia dizer que a CDU acompanha um governo ou um programa da AD". "Temos objetivos políticos e programáticos opostos", reconheceu.
Questionado sobre a possibilidade de uma nova "Geringonça" com o PS, Paulo Raimundo defende que "não é por falta da CDU e do PCP que há instabilidade governativa".
"Temos uma história e uma prática que demonstra isso. Não será por nós… Nunca faltaremos a tudo o que seja positivo, não deixaremos de propor tudo o que seja positivo nem de convergir em tudo o que seja positivo", sublinhou.
O líder comunista referiu depois que há demasiada preocupação com a forma e pouca com o conteúdo das soluções para o país.
Ainda sobre um possível apoio a uma nova "Geringonça, Paulo Raimundo deixou uma espécie de caderno de encargos. "É para quê? Para aumentar salários? Para resolver o problema da habitação? Para responder ao problema do SNS? Para acabar com a injustiça fiscal? Essa é que é a grande questão que é preciso resolver e só é impossível com mais votos e deputados da CDU", declarou.
"Chega terá o teste do algodão" nos Açores
Depois do cenário pós-eleitoral no país, Luís Montenegro falou sobre os Açores, onde a coligação AD, formada por PSD/CDS/PPM, ganhou as eleições sem maioria absoluta e não vai contar com o apoio do PS.
O líder do PSD considera que "caiu a máscara ao PS" e este momento vai ser "o teste do algodão" para o Chega, de André Ventura.
"O PS e o Chega têm nos Açores uma perspetiva muito idêntica àquela que apresentam para o país. O PS diz que nem governa nem deixa governar. Caiu a máscara ao PS. Não respeita a vitória da AD. O Chega terá agora o teste do algodão. Terá de tomar uma opção: respeitar o resultado eleitoral ou ir para os braços do PS numa coligação negativa", afirmou.
Luís Montenegro rejeita qualquer negociação com o Chega para um acordo de governo. "Não vale a pena sonhar com nenhuma negociação até à votação no parlamento dos Açores. Dia e hora marcada são a votação do programa de governo", sublinhou.
Os "recordistas dos cortes" e as pazes com os pensionistas
Os aumentos das reformas e os impostos foram outros temas do debate na RTP, com os líderes do PSD e do CDU trocarem acusações de colagem ao Partido Socialista e a recuarem ao tempo da intervenção da "troika".
O líder do PCP defende um aumento extraordinário de 7,5% para todos os pensionistas, num mínimo de 70 euros, "e agora, a partir de abril", além de aumentos anuais no mínimo de acordo com a inflação. A medida custa 1.600 milhões de euros, o equivalente aos benefícios fiscais para grandes grupos económicas, diz Paulo Raimundo. Montenegro considera que o aumento de 7,5% de todas as reformas "não é sustentável".
Sobre a intenção do PSD se "reconciliar" com os idosos e reformados, "não nos podemos esquecer que a AD foram os recordistas dos cortes nas pensões no tempo da troika", atirou o secretário-geral comunista, recordando também cortes nos salários e o "enorme aumento de impostos".
Para o secretário-geral do PCP, o PSD esteve sempre ao lado do PS no Parlamento quando foi preciso aprovar medidas medidas para beneficiar os professores e contra os grupos económicos, por exemplo. "O PSD associou-se sempre ao PS. Esta é a verdade. PSD deu a mão às opções mais erradas do PS", declarou.
Luís Montenegro defendeu-se, acusando o PCP de ser corresponsável pelo estado do país, pela sua participação na "Geringonça", e disse que o PSD apenas se limitou a cumprir o memorando da troika que foi negociado pelo PS, e que o governo da altura, liderado por Passos Coelho, "salvaguardou as pensões mais baixas".
O líder do PSD diz que foi criada a perceção errada na sociedade de que os responsáveis por salvar o país foram os responsáveis pelos cortes.
"Usei a palavra reconciliar porque há pessoas que não compreenderam o esforço que fizemos nessa altura. Para dizer posso dizer que podem confiar no PSD", sublinhou Montenegro, que promete aumentar o complemento solidário de idosos para 820 euros até ao final da legislatura e aumentos anuais mínimos idênticos à taxa de inflação.
Os líderes do PSD e CDU também "chocaram" de frente em matéria de impostos, nomeadamente numa baixa do IRC paga pelas empresas.
"Quando defendemos tributação amiga do investimento e das empresas, é a pensar nas pessoas", garantiu Luís Montenegro, que pretende assim tornar o país mais atrativo para os investidores e, assim, dinamizar economia e salários.
Paulo Raimundo só admite uma descida do IRC para as pequenas e médias empresas (PME) e não para os grandes grupos que faturam "25 milhões de euros por dia".
A localização do novo aeroporto foi o último tema do debate. Para a CDU, a questão está resolvida com base nas conclusões do estudo técnico: "Para nós está arrumado. Alcochete. Só espero que não tenhamos uma multinacional estrangeira a decidir pelo país onde vai ser o aeroporto. A Vinci não manda no país", atirou.
Já Luís Montenegro argumentou que o PSD desbloqueou o processo do novo aeroporto e vai decidir "no início da governação" qual será a melhor localização.
[notícia atualizada]