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O Papa Francisco apelou, esta sexta-feira, na Geórgia, ao direito de os refugiados e deslocados internos poderem voltar às suas terras.
As palavras do Papa, que foram ditas de forma geral, têm um significado especial na Geórgia, onde existem dezenas de milhares de deslocados internos que fugiram das zonas de conflito na Abkhazia e na Ossétia do Sul, territórios que reivindicam independência e que levaram a um conflito com a Rússia em 2008.
Durante um encontro com o presidente da República da Geórgia, Giorgi Margvelashvili, o Papa manifestou o desejo de que “Qualquer distinção de carácter étnico, linguístico, político ou religioso, longe de ser utilizada como pretexto para transformar as divergências em conflitos e estes em tragédias sem fim, pode e deve ser, para todos, fonte de enriquecimento recíproco em benefício do bem comum.”
“Isto exige que cada um possa fazer pleno uso das especificidades próprias, a começar pela possibilidade de viver em paz na sua terra ou de retornar a ela livremente se, por qualquer motivo, foi forçado a abandoná-la. Espero que os responsáveis públicos continuem a ter a peito a situação destas pessoas, empenhando-se na busca de soluções concretas, mesmo fora das questões políticas ainda por resolver”, concluiu Francisco.
O Papa visita o Cáucaso poucos meses depois de ter estado na Arménia e sabe que esta é uma região pejada de conflitos de natureza territorial e étnica. Para além dos problemas na Ossétia e na Abkhazia, existe também uma disputa territorial em Nagorno Karabakh, que opõe a maioria arménia ao Azerbaijão, república para onde Francisco viaja no domingo. É este o pano de fundo regional que permite compreender a advertência do Papa quando diz que “em demasiados lugares da terra, parece prevalecer uma lógica que torna difícil sustentar as legítimas diferenças e as disputas – que sempre podem surgir – num contexto de verificação e diálogo civil onde prevaleça a razão, a moderação e a responsabilidade.”
“Isto revela-se muito necessário no momento histórico actual, em que não faltam também extremismos violentos que manipulam e distorcem os princípios de natureza civil e religiosa, pondo-os ao serviço de obscuros desígnios de domínio e morte.”
Francisco fez ainda um apelo ao respeito pelo Direito Internacional durante o seu discurso para o Presidente, corpo diplomático e autoridades civis. “Que o caminho de paz e desenvolvimento prossiga com o esforço solidário de todas as componentes da sociedade, para criar as condições de estabilidade, equidade e respeito da legalidade susceptíveis de favorecer o crescimento e aumentar as oportunidades para todos.”
“Tal progresso autêntico e duradouro tem como indispensável condição prévia a coexistência pacífica entre todos os povos e Estados da região. Isto requer que cresçam sentimentos de mútua estima e consideração, que não podem ignorar o respeito das prerrogativas soberanas de cada país no quadro do direito internacional”, disse o Papa.
A Geórgia é um país de maioria cristã, evangelizada no século IV por santa Nino, uma escrava cristã que curou a rainha, levando o Rei a converter-se ao Cristianismo e adoptar a religião para todo o país.
A maioria dos georgianos são ortodoxos e a Igreja Ortodoxa da Geórgia está em comunhão com o Patriarcado de Constantinopla e de Moscovo, entre outros. Embora o Papa esteja a ser bem recebido no país, e as relações ecuménicas com a Igreja Georgiana sejam cordiais, há também alguns sectores mais conservadores que se opõem à Igreja Católica em geral. A reportagem da Renascença viu pelo menos um cartaz apelidando Francisco de “arqui-herético” dizendo que o Papa “não é bem-vindo na Geórgia”.
O número de católicos na Geórgia é diminuto. Existem algumas comunidades de católicos de rito arménio e o Papa vai encontrar-se com a comunidade de rito Caldeu. Há ainda uma pequena comunidade de católicos de rito latino. Até ao início da União Soviética havia uma comunidade de católicos georgianos de rito bizantino, mas a perseguição a que a igreja foi sujeita durante o regime soviético deixou a igreja sem hierarquia nem organização formal.
A Renascença com o Papa Francisco na Geórgia e no Azerbaijão. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa