Primeiro, o burburinho. A decisão de comprar bilhete e ter um guia ou fazer a visita por conta própria; o passar pelo sistema de segurança e pelos detectores de metais; a organização do grupo antes de começar.
Olhamos em volta. À primeira vista, pode parecer um qualquer complexo militar do leste da Europa. O que foi, na verdade, a sua função original - alojar artilharia do exército polaco.
O choque de realidade dá-se pouco depois, ao chegar ao famoso portão de ferro. “Arbeit macht frei” - o trabalho liberta - lê-se, no topo. Vêm à memória as aulas de histórias, os livros, os filmes e documentários sobre o holocausto. Foi aqui. Foi para aqui que foram deportadas 1 milhão e 300 mil pessoas, a maioria judeus. 90% não sobreviveram. 200 mil eram crianças. Foi aqui que tantos seres humanos perderam a dignidade.
A partir daqui, o silêncio. Dezenas de grupos de visitantes entram e saiem dos edifícios e, além dos guias, são poucos os que se atrevem a falar. Dentro dos blocos, impressionam as fotografias, as malas com nomes e moradas, os cem mil sapatos, os pentes, as duas toneladas de cabelos, as roupas de criança e até uma boneca. Tudo envolto em silêncio. É o respeito, mas é também o horror.
Entramos no bloco 11, o chamado bloco da morte. Os cerca de vinte metros de parede do corredor estão cobertos de fotografias dos prisioneiros. Rostos sem expressão, todos vestidos com o famoso “pijama às riscas”.
Descemos as escadas rumo à cave. Lá em baixo, três celas. Em cada uma, um castigo diferente: morrer asfixiado, à fome ou por cansaço. Foi este o destino do Padre Kolbe.
Maximiliano Maria Kolbe foi um padre franciscano missionário na Polónia. Por albergar judeus durante a Segunda Guerra Mundial, foi preso e transferido para Auschwitz, em 1941. Dois meses depois de lá chegar, um prisioneiro do seu bunker fugiu. E as regras do campo ditavam que cada vez que um homem fugia, dez outros tinham que morrer. Um desses dez homens, implora pela vida, chorando pela mulher e pelos filhos. É então que Kolbe se oferece para morrer no se lugar. O pedido é aceite. Estávamos a 29 de Julho de 1941. Exactamente 75 anos depois, o Papa Francisco vai visitar Auschwitz.
Francisco vai atravessar sozinho o portão de entrada de Auschwitz. Irá caminhar pelo antigo campo de concentração e à entrada do bloco 11 vai encontrar-se com 15 sobreviventes. Depois, fará uma oração pessoal na cela do Padre Kolbe.
A visita fica completa com a ida a Birkenau, o maior campo do complexo de Auschwitz. Aí, o Papa fará uma oração silenciosa junto ao Monumento Internacional às Vítimas do Campo e, antes do discurso, terá um encontro individual com 25 “Justos Entre as Nações”, pessoas que ajudaram judeus a fugir do regime nazi.
Francisco já tinha manifestado a intenção de visitar Auschwitz, durante a viagem de regresso da Arménia. Na altura o Papa disse que queria de rezar “em silêncio” neste campo de concentração, considerando-o “um lugar de horror”.
Esta será a terceira visita de um Papa a Auschwitz. João Paulo II e Bento XVI visitaram-no em 1979 e 2006, respetivamente.