Papa defende leis de união civil para homossexuais e critica discriminação
21-10-2020 - 15:50
 • Filipe d'Avillez

"Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família", diz o Papa sobre os homossexuais num documentário a estrear no Festival de Cinema de Roma, no qual Francisco também critica o afastamento destes das suas comunidades e casas.

O Papa Francisco defende que sejam aprovadas leis que regulamentem as uniões civis, ou uniões de facto, de casais homossexuais, sem que sejam equiparadas a casamentos.

A informação foi avançada esta quarta-feira pela Catholic News Agency, citando palavras ditas por Francisco num documentário com estreia marcada para hoje, no Vaticano.

No mesmo documentário, Francisco critica ainda qualquer tentativa de humilhar ou afastar os homossexuais das suas famílias e comunidades por causa da sua orientação sexual.

“Os homossexuais têm o direito a pertencer a uma família. São filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser expulso de casa ou obrigado a sentir-se miserável por causa disso", diz Francisco no documentário.

Referindo-se mais diretamente às uniões homossexuais, o Papa considera que as uniões civis podem ser uma resposta jurídica adequada. "Temos de criar uma lei de união civil. Assim beneficiam de proteção legal. Eu defendi isso".


A última referência, de ter defendido as uniões civis, pode dizer respeito ao tempo em que Francisco era arcebispo de Buenos Aires e o assunto foi discutido naquele país.

Na altura, os bispos, incluindo Francisco, criticaram a tentativa de legalizar o casamento entre homossexuais, mas algumas fontes dizem que, longe dos holofotes, Francisco terá sugerido a aprovação de uniões civis em vez de casamento.

Em 2013, antes de ser eleito Papa, o então cardeal Bergoglio criticou publicamente, no livro "No Céu e na Terra", as leis que equiparam as uniões civis ao casamento, considerando tratar-se de um "retrocesso antropológico" e manifestando preocupação de que o "direito à adoção afetará crianças".

"Toda a gente precisa de um pai e de uma mãe que os ajudem a moldar a sua identidade", apontava.

As declarações do Papa Francisco surgem no documentário "Francesco", realizado por Evgeny Afineevsky, a ser lançado esta quarta-feira no Festival de Cinema de Roma.

A defesa das uniões civis entre homossexuais está a causar alguma polémica dentro da Igreja. Atualmente, a posição oficial da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), assumida durante o pontificado de João Paulo II, é contrária a estas uniões.

Contra a discriminação

O objetivo do documentário de Afineevsky é mostrar a posição do Papa sobre diversas questões de âmbito social, incluindo o combate aos abusos e o acolhimento dos homossexuais.

Entre os momentos mais comoventes do filme está o telefonema do Papa a um casal homossexual que cuida três filhos pequenos, em resposta a uma carta deles na qual lamentavam a falta de acolhimento na paróquia. O conselho de Bergoglio ao senhor Rubera foi que levasse as crianças à paróquia, em qualquer caso, independentemente de quaisquer julgamentos que possam ser feitos. Rubera acrescenta que essa decisão foi acima de tudo benéfica para os menores.

Rubera acrescenta que na conversa o Papa não teceu qualquer opinião sobre a sua decisão de viver com outro homem. "Ele não disse qual era a sua posição sobre a minha família. Provavelmente segue a doutrina em relação a isso", afirma, elogiando contudo Francisco pela atitude de acolhimento e de encorajamento.

[Notícia atualizada às 22h10]