A Rússia disse esta segunda-feira que não enviará tropas para a República Centro-Africana, onde uma ofensiva de grupos rebeldes está a ser encarada como "uma tentativa de golpe de Estado" a dias das eleições programadas para domingo.
"Não enviaremos tropas, respeitamos todas as exigências das resoluções das Nações Unidas [ONU]", disse Mikhaïl Bogdanov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, citado pela agência de notícias Interfax.
A posição deste alto representante russo contraria as declarações do porta-voz do governo da República Centro-Africana (RCA), Ange Maxime Kazagui, que anunciou a mobilização para o país de "várias centenas" de soldados russos no quadro do acordo de cooperação bilateral.
“A Rússia enviou várias centenas de homens das forças regulares e equipamento pesado” como parte de um acordo de cooperação bilateral, disse Ange Maxime Kazagui, porta-voz do Governo da República Centro-Africana (RCA), sem especificar o número exato ou data de chegada.
Apesar de não confirmar o envio de militares, o Kremlin admitiu anteriormente estar “seriamente preocupado” com a crise na República Centro-Africana.
“As informações vindas deste país suscitam sérias preocupações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos jornalistas, escusando-se, no entanto, a comentar a alegada presença na República Centro-Africana de soldados russos.
Os líderes dos três principais grupos armados, que ocupam grande parte do território da RCA e conduzem uma ofensiva no norte e oeste do país, anunciaram na sexta-feira à noite a sua fusão e criação de uma coligação.
Os três grupos ameaçaram atacar se detetarem que o Presidente está a organizar fraudes, como já o acusam, para conseguir um segundo mandato.
Segundo fontes humanitárias e da ONU, os grupos armados apoderaram-se de várias localidades situadas nos eixos que servem a capital e ameaçaram bloquear a cidade.
No sábado, o Governo centro-africano acusou o ex-Presidente François Bozizé de uma “tentativa de golpe de Estado.
O partido de François Bozizé negou, no domingo, qualquer tentativa de golpe.
No mesmo dia, o porta-voz da Missão das Nações Unidas na RCA (Minusca), Vladimir Monteiro, disse que os rebeldes foram bloqueados ou repelidos em várias localidades.
A França, a Rússia, os Estados Unidos, a União Europeia e o Banco Mundial pediram, no domingo, a François Bozizé e aos grupos armados que depusessem as armas.
François Bozizé, que liderou o país entre 2003 e 2013 e regressou em dezembro de 2019, após quase sete anos de exílio, era apontado como o principal adversário ao atual chefe de Estado, eleito em 2016 e que procura um segundo mandato.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube de François Bozizé por grupos armados e, desde então, tem sido palco de confrontos comunitários, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes do país a abandonarem as suas casas.
O Governo centro-africano controla um quinto do território, sendo o resto dividido por mais de 15 milícias que procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
Um acordo de paz foi assinado em Cartum, capital do Sudão, em fevereiro de 2019 pelo Governo e por 14 grupos armados, e um mês mais tarde as partes entenderam-se sobre um Governo inclusivo, no âmbito do processo de paz.
Na antecipação das eleições, a missão das Nações Unidas na RCA apontou que estas são “uma oportunidade para consolidar o processo democrático”.
Portugal está presente na RCA desde o início de 2017 e tem atualmente no país 243 militares, dos quais 188 integram a Minusca e 55 participam na missão de treino da União Europeia (EUTM), liderada por Portugal, pelo brigadeiro general Neves de Abreu, até setembro de 2021.