Os efeitos da greve nacional da Administração Pública foram bastante visíveis ao longo de toda esta sexta-feira. A Renascença percorreu vários setores, na cidade de Lisboa, para perceber os diversos impactos nas áreas afetadas.
O ambiente vivido nos hospitais, nos transportes públicos e nas escolas pode ser descrito como praticamente caótico. Terão encerrado cerca de 95% das escolas e a maioria dos hospitais estiveram apenas a assegurar os serviços mínimos.
A Escola Secundária Rainha Dona Leonor, em Alvalade, decidiu não abrir portas esta sexta-feira. A subdiretora, Adelina Moura, explica, em declarações à Renascença, que não havia condições de segurança para receber os alunos.
“Decidimos fechar a escola porque não havia condições de segurança, porque temos muito poucos funcionários na escola para assegurar as crianças. O único edifício que está aberto é o jardim de infância”, começa por explicar a subdiretora da escola.
Apesar dos diversos avisos de greve que a administração publicou através da página eletrónica, os alunos acabaram por, ainda assim, dirigir-se à escola, onde encontraram as portas fechadas.
“No agrupamento todo, tínhamos, de manhã, cinco funcionários, num total de 40 e poucos”, explica ainda Adelina Moura.
Apesar de não terem tido aulas, Beatriz e Andreia, duas alunas do 10º ano, decidiram passar o dia no parque em frente à escola que frequentam.
“Chegámos aqui relativamente cedo porque íamos ter aulas às 8h30 e não houve aulas. Eles afixaram o papel que põem sempre quando há greve e temos andado por cá. Mas tínhamos de vir cá verificar”, justifica uma das alunas.
“Já sabíamos desde o início da semana que era possível hoje não termos aulas, mas nunca sabemos se fecha ou não, só sabemos no próprio dia”.
Hospitais em serviços mínimos todo o dia
No hospital Dona Estefânia, no centro de Lisboa, vários utentes aguardavam pela sua vez no local do atendimento às urgências. Alguns foram aconselhados a dirigirem-se ao Hospital de São José, por não terem enfermeiros suficientes para prestar cuidados a todos os utentes.
Segundo o que a Renascença conseguiu apurar junto do enfermeiro chefe das urgências do Dona Estefânia, a maioria dos departamentos estiveram em serviços mínimos toda a manhã e tarde desta sexta-feira.
Nos transportes públicos, a greve geral também se fez sentir. No Cais do Sodré, onde se encontra a sede da Transtejo, os trabalhadores cumprem o quinto e último dia de greve.
Em declarações à Renascença, a administração da Transtejo revela que, durante a tarde desta sexta-feira, registou-se uma adesão à greve de 52%. Durante a manhã, chegou a ser de 71%.
“Apesar das ligações fluviais terem sido interrompidas nos horários previstos, Cacilhas – Cais do Sodré, Seixal – Cais do Sodré e Montijo – Cais do Sodré anteciparam a retoma de carreiras, em cerca de 1h30 face ao anunciado. Já a ligação fluvial da Trafaria foi restabelecida apenas nos horários esperados”, explica a Transtejo.
O final da greve na Transtejo está previsto para as 21h desta sexta-feira.
João Fernandes trabalha em Lisboa, mas vive no Seixal, e, todos os dias, atravessa o rio de barco. À Renascença, conta como tem sentido os efeitos desta greve que dura há cinco dias.
“A greve tem-me obrigado a ir mais tarde para o trabalho e a sair mais cedo. Consultei o site da Transtejo e organizei-me logo para apanhar os barcos mais tarde e mais cedo do que o habitual. O primeiro barco é às 9h15 da manhã e o último barco é às 16h45, de Lisboa para o Seixal”, conta João Fernandes.
Ana Costa, que também vive na Margem Sul e trabalha em Lisboa, relata uma situação um pouco mais dramática.
“Os meus últimos cinco dias têm sido a apanhar o comboio Fertagus da ponte e depois o metro, que vem sempre completamente lotado. É horrível, não dá”, começa por contar.
“Vou agora apanhar este último barco porque saí do trabalho a correr às 16h para o conseguir, porque senão só tenho transporte às 20h. Tem sido uma grande chatice, não entendo. Tenho saído às 5h e tal da manhã, para às 8h conseguir abrir a loja onde trabalho aqui em Lisboa”, relata.