Num tempo em que a paz parece dar lugar à guerra e os conflitos aumentam, Francisco envia um discurso ao Conselho de Segurança da ONU com um convite importante.
“Este Conselho, cujo mandato é salvaguardar a segurança e a paz do mundo, às vezes parece aos olhos das pessoas impotente e paralisado. No entanto, a vossa obra, muito apreciada pela Santa Sé, é essencial para promover a paz. Precisamente por isso, quero fazer-vos um sincero convite a enfrentarem os nossos problemas comuns, deixando de lado ideologias e as visões estreitas, as ideias e os interesses partidários e cultivar um único propósito: trabalhar para o bem de toda a humanidade”, apelou.
O discurso do Papa foi lido pelo arcebispo Paul Gallagher, responsável do Vaticano para as Relações entre os Estados e Organizações Internacionais.
Francisco lamenta que “o mundo globalizado de hoje nos aproximou a todos, mas não nos tornou mais fraternos”, reconhecendo que “sofremos uma fome de fraternidade, que nasce de tantas situações de injustiça, pobreza e desigualdade e também da falta de uma cultura de solidariedade”.
E acrescenta que “o pior efeito desta fome de fraternidade é o conflito armado e a guerra, que torna inimigos não apenas indivíduos, mas povos inteiros, cujas consequências negativas reverberam por gerações.”
O sonho da paz transformado em pesadelo
“Com a fundação das Nações Unidas, parecia que o mundo tinha aprendido, depois de duas terríveis guerras mundiais, a caminhar para uma paz mais estável, a tornar-se, enfim, uma família de nações,” refere o Papa.
“Parece, porém, que estamos a retroceder na história, com o surgimento de nacionalismos míopes, extremistas, ressentidos e agressivos que têm gerado conflitos não apenas anacrónicos e ultrapassados, mas ainda mais violentos”.
Francisco lamenta que “a paz, sonho de Deus para a humanidade”, se esteja a transformar em pesadelo. “Certamente, do ponto de vista económico, a guerra costuma ser mais atraente do que a paz, na medida em que promove o lucro, mas sempre para poucos e à custa do bem-estar de populações inteiras. O dinheiro ganho com a venda de armas é, portanto, dinheiro sujo de sangue inocente”, sublinha o Papa, que pede “mais coragem para renunciar aos lucros fáceis em prol da manutenção da paz” e deixar de se vender armas cada vez mais sofisticadas e poderosas.
A coragem do encontro e das negociações
Neste contexto, “é preciso mais coragem para buscar a paz do que para fazer a guerra. É preciso mais coragem para promover o encontro do que o confronto, sentar-se à mesa de negociações do que continuar as hostilidades”, reconhece. E para tornar a paz uma realidade, o Santo Padre considera urgente “afastar a lógica da legitimidade da guerra”, pois se isso era válido em tempos antigos, quando as guerras eram mais limitadas, “nos nossos dias, com armas nucleares e de destruição em massa, o campo de batalha tornou-se praticamente ilimitado e os efeitos potencialmente catastróficos”.
Por isso, chegou o momento de dizer, com veemência,” não” à guerra, de afirmar que “as guerras não são justas e que só a paz é justa: uma paz estável e duradoura, construída, não sobre o precário equilíbrio da dissuasão, mas sobre a fraternidade que nos une.”
“Escutai os gritos de quem sofre, especialmente as crianças”
Francisco sublinha que para construir a paz é preciso “paixão e paciência, experiência e clarividência, tenacidade e dedicação, diálogo e diplomacia”. E implica também a capacidade de escuta, sobretudo, “os gritos de quem sofre por causa das guerras, especialmente as crianças. Os seus olhos marejados de lágrimas julgam-nos: o futuro que lhes preparamos será o tribunal de nossas escolhas presentes”, conclui.
Por fim, o Santo Padre acredita que “ainda há tempo para escrever um novo capítulo de paz na história” e que podemos fazê-lo “de forma que a guerra pertença ao passado, não ao futuro”.