O secretário-geral comunista considerou este domingo que o grande capital vai “passando graxa ao cágado” que é o PS, enquanto a maioria absoluta socialista alinha com os interesses dos grupos económicos e se aproxima dos “projetos retrógrados” da direita.
Durante uma sessão pública em Loures, no distrito de Lisboa, sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), que conta com “a oposição” do PCP, Jerónimo de Sousa criticou o recente acordo na Concertação Social e o que diz ser o alinhamento do PS com o patronato.
“As confederações patronais, o grande capital, não aplaudem por aplaudir. Aplaudem porque com esta política o Governo do PS merece palmas e sorrisos. O capitalismo tem muitos defeitos, mas não é parvo. Neste momento essas palmas e sorrisos também estão a ser pagas pelo grande capital, que as dão passando graxa ao cágado, no caso concreto ao PS, porque segue os seus interesses”, sustentou.
O secretário-geral do PCP apontou a todos os lados e também se insurgiu contra a decisão do Governo de antecipar meia pensão em outubro, já que na ótica do partido vai retirar poder de compra aos pensionistas em 2023.
E acrescentou que a população também “já percebeu” a estratégia dos socialistas: “Dar com uma mão e tirar com a outra.”
“Conhecemos bem as dificuldades do nosso povo, aquela frase tão batida aqui na zona: 'Mais vale pouco do que nada, pode ser que o Governo depois aumente outra vez'. E tem sido esta a conversa [do PS] para esconder que lá para final de 2023/2024 os reformados e os pensionistas acabam por ver que foram enganados”, completou.
O dirigente comunista acrescentou que o agravamento das condições de vida dos portugueses e o que está vertido na proposta de OE2023, apresentada há uma semana, demonstram que há uma “clara convergência com os projetos reacionários e retrógrados de PSD, CDS-PP, Chega e IL para servir os interesses dos grupos económicos”.
As soluções para contrariar a “depauperação” do país, na ótica do PCP, “não só são ignoradas” pelo executivo de António Costa como “são adotadas orientações e medidas com consequências profundamente negativas”.
Jerónimo de Sousa advogou que o país e o partido ao qual pertence estão a viver um tempo “muito duro, muito rijo, no plano das ideias, da realidade” socioeconómica, mas a “dureza do combate” que o PCP trava “já foi testada muitas vezes”.
E concluiu com o mesmo poema de Miguel de Cervantes que declamou na noite das eleições legislativas de janeiro, com uns 'pequenos toques' do líder operário: “Quando se perde os bens, perde-se pouco; quando se perde a dignidade perde-se muito; mas quando se perde a coragem perde-se tudo. Eu creio que já perdemos alguns bens, mas estamos longe de perder a dignidade e estamos muito mais longe de perder a coragem para lutar”.