Quase meio milhão de mortos e perdas económicas superiores a 250 mil milhões de euros. O retrato negro de cinco anos de guerra civil na Síria é revelado, esta quinta-feira, pelo jornal “The Guardian”, que cita um relatório do Centro Sírio de Pesquisa Política.
Dos mortos, 400 mil terão sido causados pelo conflito e cerca de 70 mil devido a falta de água potável, medicamentos e outros cuidados básicos.
Neste momento, a situação mais crítica verifica-se no norte do país, entre Aleppo, a segunda maior cidade síria, e a fronteira com a Turquia, para onde convergem muitos milhares de refugiados que tentam entrar naquele país.
Em declarações à Renascença, a partir de Damasco, o porta-voz da Cruz Vermelha na Síria, Rafi Qureshi, dá conta da existência de milhares refugiados na zona. “Os nossos números apontam para que haja, pelo menos, 50 mil deslocados nessa parte de território, entre a fronteira com a Turquia e os arredores de Aleppo. As pessoas estão em constante movimento, tentam chegar a um determinado lugar em segurança mas, por causa dos conflitos entre as forças do Governo e os rebeldes, são muitas vezes forçadas a recuar ou a mudar de rota.”
“Há aldeias e partes de grandes cidades que estão completamente desertas. Muitos milhares de refugiados foram até à fronteira com a Turquia mas encontraram-na encerrada. No caminho inverso, muitas nem sequer conseguiram regressar à sua zona de origem. Tiveram de procurar outros locais onde pudessem ser recebidas”, diz ainda Qureshi.
O responsável da Cruz Vermelha síria explica que há necessidade de cuidados básicos para quem foge do conflito, que se agravou nas últimas semanas com a renovada ofensiva do exército sírio para conquistar a cidade.
“Precisam de comida, água, medicamentos e abrigos. Sobretudo nesta altura em que o Inverno é particularmente duro com temperaturas negativas. A nossa principal preocupação são as crianças.”
Actualmente, Aleppo está praticamente cercada por forças do regime. Mas se a situação se agravar, as agências humanitárias ficarão impossibilitadas de aceder à cidade para entregar ajuda humanitária, deixando até 300 mil pessoas em estado crítico. A Cruz Vermelha vai tentar apelar à razão de rebeldes e exército.
“Estamos a tentar negociar com as partes do conflito a abertura de uma zona humanitária junto à fronteira turca. Esperamos que isso possa acontecer nos próximos dias para que possamos trazer a ajuda humanitária de que estes refugiados necessitam”, diz.
Aleppo pode ser o principal foco de preocupação nesta altura, mas está longe de ser o único ponto de dificuldade na Síria. Na região a norte de Homs a ofensiva do Governo em meados de Janeiro isolou cerca de 120 mil pessoas, que ficaram privadas de acesso a comida e outros cuidados básicos.
O preço do pão é já 10 vezes superior nesta região do que na cidade de Homs, já nas mãos do Governo e as Nações Unidas temem que a situação se deteriore rapidamente nas próximas semanas.