O arcebispo Georg Gänswein, que foi secretário pessoal do Papa emérito Bento XVI, desde 2005, diz que o objetivo de Joseph Ratzinger, em todo o seu percurso, foi o de "ajudar as pessoas a centrar Deus na sua Fé".
Numa entrevista feita a 15 de dezembro e divulgada esta quinta-feira, Gänswein afirma que Bento XVI deixou, através da sua escrita, "um testamento da sua fé e da crença que este testamento vai ajudar as pessoas".
O arcebispo, há 38 anos ao serviço da Igreja, recorda o Papa Emérito como "um homem que vinha sempre preparado" e lembra que, enquanto Sumo Pontífice, esteve preocupado "com o evaporamento da Fé" na Europa.
"Ele queria Deus no cento da Fé, de novo, e encorajar que a Igreja tomasse os passos certos", indica.
"Outra grande preocupação que ele expressou no seu trabalho escrito, foi a questão do relacionamento da Fé com a Razão. Em vez de estarem em conflito, devem complementar-se", aponta.
O antigo secretário pessoal de Joseph Ratzinger considera que, quando foi nomeado Papa, "até podia suspeitar que isso ia acontecer, mas não o desejava".
"Ele não é um estratega. Não agiu à espera de ser nomeado Papa", diz.
Na mesma entrevista, o arcebispo recordou a presença "triunfal" de Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude, em Colónia, em 2005, descrevendo-a como "um cenário incrível".
"Ele próprio sentiu-se uma fonte de inspiração para as pessoas. Deixou-se ir no momento, sem perder o foco da sua mensagem", acrescenta.
Por outro lado, também lembrou "quando começou a tempestade" das denúncias de abusos sexuais na Igreja, em 2010, garantindo que afetaram o Papa Emérito "profundamente".
Para o antigo secretário pessoal, Bento XVI "fez o seu melhor enquanto Papa para lidar com a situação e tomar os passos apropriados".
O arcebispo que acompanhou o Papa Emérito durante todo o seu Pontificado acredita que a decisão de renunciar ao cargo terá sido tomada depois da viagem a Cuba e ao México, em 2012.
"Foi uma viagem difícil e percebi que o tinha deixado exausto. Acho que foi aí que começou a pensar na renúncia", considera.
O arcebispo Georg Gänswein voltou também a negar que Bento XVI escolheu sair do cargo devido aos Vatileaks ou a uma conspiração da Cúria.
"É falso, é estúpido e não é verdade. O caso Vatileaks desapontou-o pessoalmente, mas não teve nada a ver com a sua decisão", afirma.
Sobre a renúncia de Bento XVI, refere que "mudou o mandato papal e também a forma como é percecionado" e defende a continuidade do uso das vestes e do título de Papa.
"Um cardeal retirado ainda é referido como Sua Eminência. Um Papa que se retirou, porque não podia continuar a ser chamado Sua Santidade? Um cardeal retirado pode manter o uso das suas vestes. Porque é que um Papa Emérito não pode manter as suas vestes brancas?", conclui.