A presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS), Cristina Vaz Almeida, alerta que falta financiamento às associações de doentes para intervir junto das populações e combater a iliteracia em saúde.
Em declarações à Renascença, a especialista considera que é urgente envolver a comunidade e começar a implementar projetos que clarifiquem a linguagem complexa da saúde.
"Já sabemos qual é o problema. Está bem identificado, mas é preciso depois levar à prática. É preciso implementar, é preciso envolver os 'stakeholders', é preciso envolver as comunidades, as associações de doentes é essencial - o papel das associações de doentes em Portugal é essencial -, mas depois elas debatem-se com falta de financiamento. E, por isso, apesar de serem associações sem fins lucrativos, elas têm que ter financiamento para desenvolverem os projetos. Não se faz omeletes sem ovos.", lamenta.
O estudo mais recente da Direção-Geral de Saúde (DGS) aponta que sete em cada dez portugueses apresentam um nível de literacia em saúde suficiente. A presidente da SPLS discorda e defende que 50% dos portugueses tem baixa literacia em saúde. A investigadora alerta que faltam recursos às associações de doentes para intervir.
Para Cristina Vaz Almeida, a DGS tem-se desdobrado em planos e tarda no combate ao problema junto da comunidade.
"Não basta o papel, não bastam os programas, não bastam os planos. Depois é preciso fazer interação e intervenção na Comunidade. E às vezes não é preciso fazer grandes coisas. É fazer projetos locais com as autarquias, com os municípios, com as unidades de saúde e por isso, é preciso urgentemente passar do papel para as intervenções práticas nas comunidades e para o cidadão.", critica a presidente da SPLS.
A investigadora lembra que há muitos utentes que não dominam as ferramentas digitais, sobretudo os mais idosos. Cristina Vaz de Almeida aponta um exemplo que, considera, é simples, mas ajudaria a clarificar a comunicação entre utentes e profissionais de saúde.
"Isto parece complexo, mas não é complexo. Tem a ver com a mente humana e com a forma e a quantidade de informação com que somos bombardeados todos os dias. E, por isso, um utente que está numa consulta tem que sair de lá com uma mensagem clara e não precisa de sair com 20 orientações. Se há uma relação de continuidade, basta sair com duas ou três orientações, porque a interação com o profissional de saúde é regular."
A SPLS apresenta hoje o primeiro manual em literacia em saúde, no Porto. À cerimónia sucede um debate sobre a transição dos dados de saúde dos pacientes para um registo único digital e a integração dos cuidados de saúde.