As ambulâncias em fila de espera à frente ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, demonstram um problema “crónico”, tendo em conta que “já há bastantes dias que esta situação ocorre”, diz Nélson Pereira, coordenador do Serviço de Urgência para a resposta Covid-19 do Hospital de São João, no Porto, em declarações à Renascença.
O responsável hospitalar sublinha, também, que “é evidente que a pressão sobre os hospitais da Grande Lisboa, quando comparativamente com o Grande Porto, não é comparável neste momento”. E que é preciso ter consciência que a afluência de doentes varia de forma muito significativa: “Isso, obviamente, gera necessidades que podem não estar previstas e que obrigam a uma reorganização dos serviços. Momentos de pico todos temos, todos tivemos, e temos de ser capazes de saber lidar com eles.”
Durante o último ano, o Hospital de São João também teve dias críticos, mas nunca chegou ao ponto do que se tem vindo a registar em Lisboa, nos últimos dias.
Segundo Nélson Pereira, a estratégia para lidar com a maior afluência passou, desde logo, pela a criação de espaços adicionais sempre que o número de doentes suspeitos ultrapassava a capacidade até então disponível. “Espaços adicionais, tendas de campanha, contentores, de forma a conseguirmos acomodar-nos àquilo que era o perfil do número de doentes que nos chegava”, conta.
“Não podemos cristalizar. Se temos um número de entradas que ronda os 200, não posso manter-me com uma estrutura que só acomoda 50. Isso tem que ser obviamente flexível. Depois, do ponto de vista, quando nos queixamos que há doentes que têm situações mais ligeiras que eventualmente não deviam estar no hospital, esse é um problema crónico. É um problema não existe só agora em tempo de pandemia”, explica ainda.
O Hospital de São João conseguiu evitar filas de espera de ambulâncias devido, pelo menos em parte, ao processo de triagem dos doentes desde que entram na área da unidade hospitalar, nota Nélson Pereira.
“Desde a primeira hora, da primeira vaga em março, que nós temos instalada uma triagem avançada, uma triagem que é feita quando o doente entra no perímetro da urgência, de forma a rapidamente a podermos fazer divergir os doentes para áreas diferentes. Desta forma, criamos espaços onde os doentes mais ligeiros podem aguardar mais tempo e criamos espaço para os doentes mais graves, que habitualmente são aqueles que veem em ambulâncias, para rapidamente poderem ser admitidos nos serviços de urgência”, explica.
Esta sexta-feira, em declarações aos jornalistas, Anabela Oliveira, diretora das urgências do Hospital de Santa Maria, queixou-se precisamente de não ter qualquer referenciação dos doentes que são encaminhados para o Santa Maria por parte do INEM e da explosão do número de casos na região.
“Não sabemos se os doentes nas ambulâncias são ligeiros, moderados graves, a montante não temos qualquer controlo”, disse a responsável, que a partir desta sexta-feira conta com uma pré-triagem de doentes para procurar aliviar a pressão.