Fome no Brasil? "É uma grande mentira", diz Jair Bolsonaro
19-07-2019 - 17:09
 • Renascença

Relatório divulgado esta semana alerta que combate à fome estagnou no país. Presidente diz que o estudo é "discurso populista".

O relatório anual “O estado da segurança alimentar e da nutrição no mundo”, divulgado pela agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) no início da semana. Mas para o chefe de Estado do Brasil, essa informação é uma "grande mentira".

Confrontado pelo “El País” esta sexta-feira com as conclusões do estudo, Jair Bolsonaro disse que “passar fome no Brasil é uma grande mentira” e criticou a ONU pelo que considera ser um “discurso populista”.

O Presidente brasileiro comentou ainda que “não se vê gente mesmo pobre pelas ruas, com físico esquelético”, em declarações proferidas durante um café da manhã com correspondentes de jornais estrangeiros.

Apesar das melhorias verificadas desde 1999, ano em que o número de brasileiros com fome ascendia aos 20,9 milhões de pessoas, o relatório afirma que o combate à fome no Brasil está estagnado.

Cerca de 820 milhões de pessoas no mundo passaram fome em 2018, verificando-se desta forma um aumento nesse número pelo terceiro ano consecutivo.

Os autores do estudo, feito pela FAO em parceria com o Programa Alimentar Mundial (WFP), a UNICEF e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), destacam ainda que mais de 2 mil milhões de pessoas não têm acesso regular a alimentos nutritivos nem em quantidade suficiente.

De acordo com o representante regional da ONU, Julio Berdegué, será necessário resgatar, em média, mais de 3,5 milhões de pessoas da fome, por ano, até 2030, para alcançar a meta de fome zero definida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2.

A probabilidade de sofrer insegurança alimentar é mais elevada para as mulheres, em todos os continentes, sendo que a maior diferença de género nesse campo dá-se na América Latina.

O relatório relaciona ainda a desigualdade de rendimentos com o aumento dos níveis da fome, sublinhando a dificuldade acrescida para os mais pobres, vulneráveis ou marginalizados em todo o mundo.

A América Latina verificou um aumento de 0,3% desde 2014, com 42,5 milhões de pessoas afetadas em 2018. Dessas, 55% concentram-se na América do Sul, o que se deve à insegurança alimentar na Venezuela, onde a subnutrição aumentou quase quatro vezes entre 2012 e 2018.

Quando considerado o critério de insegurança alimentar severa, a América do Sul saltou de 19,4 milhões para 36,7 milhões de pessoas afetadas.

Também de acordo com o estudo, as alterações climáticas têm contribuído para adensar o problema. Nesse ponto, o Brasil também é citado, com os investigadores a alertarem que a produção agrícola no país está em risco devido ao aquecimento global.