Um grupo de cientistas portugueses inicia, no domingo, a primeira expedição de veleiro à Antártida. Durante duas semanas, vão investigar o impacto das alterações de temperatura no planeta e a presença de microplásticos no Polo Sul.
“É uma zona de grande influência oceânica e as temperaturas nunca são tão elevadas como, por exemplo, no interior do continente antártico, onde as temperaturas são muito mais frias. Durante o verão antártico, há muitas zonas que ficam expostas à atmosfera, sem haver cobertura de gelo. São as chamadas zonas livres de gelo onde é possível ver o impacto das alterações climáticas, por exemplo, do aquecimento global”, explica à Renascença Teresa Cabrita, diretora executiva do programa POLAR português, o também designado PROPOLAR, que junta cinco institutos de investigação, em parceria com o Gabinete Polar da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Uma pequena oscilação de temperatura vai fazer muita diferença, num ambiente "mais sensível a pequenas alterações" e sujeito a alterações atmosféricas e do oceano, diz a investigadora.
Esta época dir-se-ia “estival”, na Antártida, assemelha-se a um inverno europeu. Os termómetros variam entre 1 grau Celsius e os 2 graus negativos.
Ainda assim, nada comparado com - 40º C ou -50º C, como é mais habitual no clima antártico.
A expedição denominada COASTANTAR 2024 vai permitir recolher amostras de água do mar, de gelo marinho e realizar medições de terrenos.
“Temos alguns projetos que são relacionados com o zooplâncton, por exemplo, os microplásticos, e nesse caso terá de ser feita uma amostragem de água. Outros investigadores vão recolher sedimentos nas zonas terrestres e farão aí medições e colheitas de amostras”, adianta Teresa Cabrita.
Diversidade da investigação científica
É vasta a variedade de amostras para recolher, tal como é grande a diversidade de disciplinas e áreas do conhecimento que vão a bordo do veleiro.
Os cientistas levarão a cabo observações enquadradas em 10 projetos nas áreas da biologia marinha, ecologia terrestre, permafrost, ciências da atmosfera, riscos naturais, arquitetura sustentável e eficiência energética, e diplomacia científica.
O veleiro envolvido na expedição não está equipado com laboratório, pelo que serão necessários cuidados especiais em alguns casos.
“Algumas amostras precisam de estar mantidas a -80º C. Temos uma arca congeladora para esse efeito”, diz Teresa Cabrita.
A primeira expedição científica portuguesa de veleiro na Península Antártica é composta por uma equipa interdisciplinar de 10 cientistas das universidades de Lisboa, Algarve e Coimbra, e por convidados das universidades Autónoma de Madrid e Pontifícia do Chile.
A expedição COASTANTAR 2024 é co-financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pela Universidade de Lisboa e conta com a colaboração logística do Comité Polar Espanhol e do Instituto Antártico Chileno.