O diretor interino do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, assegurou esta terça-feira que tudo vai ser feito para garantir a segurança das grávidas.
É a resposta de Alexandre Valentim Lourenço às críticas de Diogo Ayres Campos, o antigo diretor do serviço, que foi demitido na segunda-feira depois de criticar a transferência de partos para o Hospital São Francisco Xavier nos meses de agosto e setembro, situação que, de resto, deu origem a um abaixo-assinado subscrito por mais de 30 profissionais.
Em declarações aos jornalistas ao início da tarde, Alexandre Valentim Lourenço deixou uma mensagem de tranquilidade às utentes.
“Já conversei com o diretor do São Francisco Xavier, já marcámos uma reunião para avaliarmos como podemos ajudar em tranquilizar a população e em garantir as condições de segurança que todos os médicos do Serviço espelharam”, disse.
Alexandre Valentim Lourenço admite que partilha as “preocupações”, mas garante que “vamos tentar fazer neste processo de obras que nos vai tornar mais robustos” uma maternidade “com maior capacidade e para fazer mais partos daqui a um ano”.
“Para que próximo ano, sejamos nós a receber as necessidades e estarmos capacitados com a nossa excelente equipe, apostar numa melhor assistência”, acrescenta.
Ministério da Saúde não comenta
O Ministério da Saúde não comenta a exoneração do diretor do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Santa Maria, Diogo Ayres Campos, que foi afastado depois de colocar em causa o projeto da nova maternidade e a colaboração com o S. Francisco Xavier.
Numa carta datada de 15 de junho - e só hoje revelada pelo jornal Público - os médicos dizem ser alvo de pressões para aceitar a transferência de partos para o São Francisco Xavier, mesmo antes de se conhecerem as instalações disponíveis e de estarem acordadas as situações clínicas.
Num comentário a este caso, Joana Bordalo e Sá, da FNAM, acusa o Governo de intolerância face às críticas.
“A carta tem a assinatura de facto da maioria dos elementos do serviço, bem como da então sua diretora e do seu diretor departamento e pelo menos há uma associação temporal com a exoneração deste diretor, o que nos deixa ficar a pensar que, no fundo, quem ousa criticar medidas do Ministério da Saúde ou da sua direção executiva é exonerado, portanto, em democracia isto não é aceitável”, diz Joana Bordalo e Sá.
A presidente da FNAM entende que “os médicos para poderem trabalhar para outro local de trabalho que não o seu tem que ser com o seu acordo”.
“Isso é uma coisa que não lhe pode ser imposta, é ilegal. Admitindo que até poderiam fazer esse esforço, obviamente, têm que conhecer o plano previamente”, defende.
Médicos acusam tutela de amadorismo e má fé
Em causa o cancelamento das negociações com os médicos, a poucas horas de mais uma reunião que deveria acontecer esta terça-feira.
Em declarações à Renascença, Joana Bordalo e Sá, da FNAM, acusa o Governo de falta de diálogo com os médicos.
“Isto revela amadorismo, má-fé por parte do Ministério da Saúde, neste caso em relação à FNAM que está neste processo há 14 meses, integrando sempre as suas várias propostas, matéria na questão das grelhas salariais, da renegociação da carreira, na questão da parentalidade”, acusa.
Segundo Joana Bordalo e Sá, se o ministro da Saúde “tivesse ouvido com atenção e lido com atenção as propostas da Federação Nacional dos Médicos, nós, neste momento tínhamos mais médicos no Serviço Nacional de Saúde”.
Neste quadro, a Federação Nacional dos Médicos admite que a greve de 5 e 6 de julho é cada vez mais uma inevitabilidade.