À espera de luz verde para regressar ao PSD, António Capucho sublinha, em entrevista à Renascença, que até Francisco Sá Carneiro teve pior resultado, em 1976, e pouco depois chegou a primeiro-ministro. Particularmente critico dos críticos, Capucho sublinha que Rui Rio é um líder legitimo e não tem nada que ir embora. Admite, ainda assim, que poderia ser boa ideia antecipar o congresso para reforçar a sua legitimidade.
Já sobre Cavaco Silva, António Capucho diz que a prosa é boa, e a intenção excelente, mas o exemplo que deu de Maria Luis Albuquerque não lhe pareceu feliz…apesar de sublinhar que – em sua opinião – Cavaco não tirou o tapete a Rui Rio.
Como vê as movimentações em curso no PSD para substituir Rui Rio?
As movimentações não são novas. De facto, ele teve um resultado que não é famoso mas é muito superior àquilo que esperavam as sondagens e desejavam os críticos que, durante estes dois anos, não pararam de o atacar.
Foi isso que disse o próprio na noite das eleições, mas isso não desculpa tudo e a verdade é que foi um resultado verdadeiramente histórico…
Não, não foi histórico. Foi um resultado de 28%. Houve resultados bem piores no partido. Sá Carneiro, por exemplo, teve 24% em 1976 e três anos depois era primeiro-ministro. Portanto, é um resultado que não é bom... Não é uma vitória, é uma derrota, mas é uma derrota que tem explicações... E uma das explicações é esta.
Perante sondagens que estavam aos níveis mais baixos de sempre, qualquer subida de Rui Rio seria particularmente visível. O que é facto é que o PSD de Rio ficou a 9 pontos do PS, apesar do caso Tancos... Os críticos esperavam mais.
Claro. Esperavam mais agora porque antes esperavam menos. Há declarações de alguns deles a dizer isso mesmo: "Ou passa os 25% ou, então, terá que ir embora". A verdade é que passou, e passou graças à sua prestação em campanha eleitoral.
E não tem nada que ir embora, então?
Não, na minha opinião é um líder legitimo. Se ele entender agora ponderar o reforço da sua legitimidade através de uma antecipação da convocação do congresso...
Deveria fazer isso?
Não sei se deveria, ele é que tem que ponderar. Se fizer isso, tudo bem, nada contra, tudo a favor. Não precisa de fazer isso, mas se o fizer melhor.
Entre os críticos inclui o professor Cavaco silva que esta terça-feira veio acenar com o nome de Maria Luis Albuquerque?
Em relação ao professor Cavaco Silva estou na generalidade de acordo. É necessário um esforço maior de Rui Rio, de congregar todos os militantes de boa vontade, mesmo os que tenham sido dissidentes, como é o meu caso, mas há outros. Há os que continuam no partido, mas a fazerem muito pior ao partido do que eu jamais poderia ter imaginado. Agora, eu acho que o exemplo dado pelo professor Cavaco Silva não é muito feliz. Se bem me lembro Maria Luis Albuquerque disse a certa altura que jamais integraria o grupo parlamentar enquanto Rui Rio fosse presidente.
A interpretação de toda a comunicação social foi: Cavaco Silva tira o tapete a Rui Rio...
Não me admira essa interpretação, tendo em conta a tendência normal da comunicação social...
Não é também a sua?
Não, não é. Não tira nada o tapete. Ele dá um exemplo que eu não acho feliz. No resto ele tem uma prosa interessante, que eu subscrevo na generalidade. O que não concordo é com a imagem que ele tira de Maria Luis Albuquerque. É uma pessoa muito respeitável, mas, se bem me lembro, disse, claramente, que jamais seria candidata a deputada... Não integraria o grupo parlamentar enquanto Rui Rio fosse líder do partido. Se é assim, não percebo porque é que se está a dar o exemplo.
Mas também não tem dúvidas de que Cavaco Silva não diz nada por acaso...
Eu não sei se diz nada por acaso. O que eu lhe disse, está dito. Acho que a prosa é boa, a intenção do professor Cavaco Silva – como de costume – é excelente, mas o exemplo de Maria Luis Albuquerque, que você aliás citou, não me parece feliz.