Abel Matos Santos foi o primeiro nome a apresentar-se à sucessão de Assunção Cristas, logo na noite eleitoral de 6 de outubro. Lidera a Tendência Esperança em Movimento (TEM) e promete levar a sua moção até ao fim no congresso de 25 e 26 deste mês, em Aveiro. Em entrevista à Renascença, este psicólogo clínico e sexologista assume-se, claramente, de direita e conservador nos costumes e defende alterações às leis do casamento e do divórcio.
Tem defendido um CDS mais à direita. O que é para si um CDS mais à direita?
É um CDS claro, convicto, que não tenha vergonha de afirmar aquilo que eram as suas bandeiras e as suas ideias chave de sempre, um CDS fiel à sua matriz democrata-cristã e aos princípios do humanismo personalista, um CDS claro no qual os eleitores e os portugueses se revejam e percebam o que significa o CDS.
Hoje em dia, o CDS é um partido que tem uma retórica inconsequente, que descafeinou, que as pessoas não conseguem distinguir do PSD ou do PS ou até mesmo do Bloco de Esquerda. Não há nada que diferencie o CDS, hoje, dos outros partidos do sistema político. É preciso que o CDS recupere a sua matriz identitária e as bandeiras que o fazem ser diferente de todos os outros partidos.
Isso, geralmente, também se entende como um CDS mais conservador em termos de costumes.
Sim, eu defendo um CDS de direita e conservador. Sou conservador. Liberal na economia com responsabilidade social, um liberalismo diferente do liberalismo económico defendido pela Iniciativa Liberal. O nosso liberalismo tem de assentar na responsabilidade social. E, obviamente, sou conservador nos costumes e no modelo de sociedade que defendo o CDS também o é.
Ser conservador é mudar o que está mal e manter o que está bem, e hoje temos vários problemas na sociedade que têm a ver com muitas das bandeiras e ideias da esquerda e da extrema-esquerda que têm criado problemas a nível da sociedade que tendo que o CDS tem o dever e a obrigação de corrigir, por um lado, aqueles que já estão estabelecidos e, por outro, evitar que outros, como a eutanásia, sejam uma realidade na sociedade portuguesa porque entende que isso atenta contra a dignidade da pessoa humana.
Quando fala em corrigir está, por exemplo, a defender voltar a alterar a lei do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, da adoção?
Sim. Entendo que o casamento é entre um homem e uma mulher e, portanto, pessoas do mesmo sexo podem ter e devem ter uma união civil registada caso pretendam viver num jurídico semelhante ao casamento, mas não se pode chamar casamento. Da mesma maneira que defendo que se devolva a verdadeira natureza às uniões de facto: as pessoas que pretendam de viver em união de facto, podendo casar-se e não o fazendo, é porque não querem estar sujeitas à regulação jurídica do casamento e, portanto, deve ser uma entidade jurídica diferente.
Defendo também que o divórcio unilateral deve ser revisto no sentido de proteger a parte mais vulnerável no divórcio. Isto não é para impedir os divórcios, porque não se aplica ao mútuo consentimento, mas é para proteger a parte vulnerável quando existe um divórcio unilateral.
Em relação ao aborto, não podemos mascarar que vivemos num tempo em que milhares de fetos são exterminados por via do aborto. Num tempo em morrem mais pessoas do que aqueles que nascem, precisamos de crianças e entendo que o Estado deve financiar e deve apoiar com medidas concretas para que as mulheres não precisem de abortar. Isso faz-se, por um lado, apostando na informação dos jovens para evitar gravidezes indesejadas e, por outro lado, com dinheiro e medidas de higiene e de saúde no sentido de permitir que as mulheres que engravidaram e tiveram uma gravidez indesejada possam ter a criança ou dando-a para a adoção ou tendo-a com condições para a poder criar. Não é uma questão de penalização, mas de medidas que ajudem as mulheres a não terem de abortar.
Tem sido crítico da liderança de Assunção Cristas. Acha que os resultados eleitorais vieram dar-lhe razão?
Com certeza que sim. A realidade sobrepõe-se sempre à ilusão e à fantasia e, desde há quatro anos, que digo que o caminho não era este, que não era assim que poderíamos ganhar espaço político e a realidade veio dar-me razão. O desaire deveu-se ao caminho que a presidente do partido e esta direção da qual João Almeida é membro ativo delinearam, sem ouvir aquilo que eram as nossas críticas construtivas.
Acharam que o CDS tinha de ser um ‘catch all party’, um CDS ao centro, ao centro-esquerda, que navegasse ao sabor do vento e ao sabor da agenda mediático quando o que o CDS tem de ser é um partido claro e convicto nas suas ideias. E o facto de perdermos esse eleitorado e esse espaço permitiu que outros ocupassem esse espaço, veja-se o Iniciativa liberal e o Chega, que ocuparam o que era o espaço do CDS. O CDS tem de voltar a afirmar o que foram sempre as suas bandeiras: a segurança, o mundo rural, a defesa da vida, a soberania, uma Europa de Estados contra uma Europa federal ocupar esse espaço e a partir da direita ocupar o centro
Já falou dos novos partidos que ocuparam espaço que entende que era do CDS. Como é que deve ser a relação do CDS com o Chega e a Iniciativa Liberal? O CDS deve continuar a privilegiar o diálogo com o PSD ou deve também dialogar com os novos partidos?
O CDS deve dialogar com todos aqueles que estão na cena política, da esquerda à direita. Depois, na nossa área entendo que partidos como o Chega não são nossos inimigos, são nossos aliados porque muitas das pessoas que lá estão saíram do CDS porque o CDS perdeu identidade. Não vejo que se deva diabolizar projetos ou partidos que apareçam à direita. Acho que isso é bom, sou pela competitividade e entendo que, quanto mais se falar da direita e quantos mais projetos aparecerem à direita, melhor para a direita em Portugal e para a discussão do que deve ser a direita.
Acho que a IL é um partido muito diferente do CDS, tem um ponto de contacto na questão económica, mas é um liberalismo selvagem e nós defendemos um liberalismo assente na responsabilidade social. De resto, nos costumes e nos valores o IL está igual ao Bloco de Esquerda e, portanto, não vejo aí grande interesse, nem pontos de contacto. É claro que o PSD é um partido com o qual sempre conversámos e com o qual continuaremos a conversar. Mas não se deve demonizar outros partidos e projetos à direita porque eles fazem falta para esta reconstrução da direita que temos de fazer e que entendo que o CDS deve liderar. A construção da grande casa da direita em Portugal deve partir do CDS
Vai levar a sua moção a votos?
Vou levar a minha moção até ao fim. Esta candidatura surge naturalmente e, por isso, fui o primeiro logo na noite das eleições a apresentá-la. Vamos levar a nossa moção ao congresso, vamos apresentá-la, vamos defendê-la.
E se a sua moção não for a mais votada, qual o candidato que pode vir a apoiar?
Não sei se há outros candidatos que admitam apoiar-me a mim. Não penso nisso agora. Estou muito convicto. Sei que não sou um candidato do sistema, temos neste congresso de decidir entre duas coisas fundamentais: se escolhemos mais do mesmo caminho que nos trouxe ao pior resultado de sempre ou se queremos mudar, entrar numa nova era de futuro, de esperança, com novos atores políticos e novos protagonistas que permitam ao CDS afirmar-se como um partido de direita descomplexada, fugindo ao politicamente correto e que reconquiste da direita para o centro o grande espaço político que era seu.