O Centro de Estudos de Medicina Baseada na Ciência fez um estudo sobre “Custo e Carga da Doença de Alzheimer em Portugal” e concluiu que a doença representa mais de dois mil milhões de euros por ano, só em custos diretos médicos e não médicos. Ou seja, o equivalente a 1% do PIB.
Custos, que admitem os investigadores que participaram no estudo e outras entidades, estão subestimados: só a população com demência que vive no domicílio foi contabilizada e com mais de 65 anos. Nestes dois mil milhões de euros, mais de metade dizem respeito a gastos com cuidadores informais e outros 550 milhões, a apoios sociais.
Uma doença, que, em 2018, foi responsável pelo equivalente a 45.754 anos por incapacidade. O estudo revela ainda que em Portugal há, pelo menos 194 mil pessoas com demência, cerca de 70%, com Alzheimer. Estas são mais de 143.300.
Desde 2018 está aprovada a Estratégia da Saúde para a Área das Demências, mas só com o PRR é que os planos regionais deverão ser implementados. O responsável pela Administração Central dos Serviços em Saúde garante que está para breve. No debate que decorreu hoje, Vitor Herdeiro não avançou datas, mas afirmou que não há atrasos.
Muito mais do que dois mil milhões anuais
Os investigadores que realizaram o estudo sublinharam que, por muito que se muito que se queira a perfeição, ela é impossível. Faltam dados oficiais e confirmados importantes e que não puderam ser tidos em conta.
Manuel Gonçalves Pereira, investigador e médico psiquiatra apontou alguns. Por exemplo, o facto de só serem contabilizados indivíduos com mais de 65 anos, quando as demências e em particular a Doença de Alzheimer atingem pessoas cada vez mais novas.
Ou de apenas de contar com as pessoas que vivem no seu domicílio, sem incluir as pessoas institucionalizadas. Para este especialista era muito importante saber quantas pessoas com demência estão nos lares, legais ou ilegais.
E sublinha que neste estudo se falou apenas de custos diretos médico e não médicos. “Mas não existe uma pessoa com demência que não tenha também diabetes ou hipertensão ou outras patologias, cujo tratamento é altamente prejudicado pela existência de problemas cognitivos. Além disso, os custos – frequentemente – começam antes do diagnóstico. E os custos intangíveis, não cobertos, que têm a ver com a qualidade de vida das pessoas, doentes e cuidadores informais”.
Impacto seis vezes maior do que a insuficiência cardíaca
Na comparação do impacto entre a doença de Alzheimer e outras patologias, João Costa, investigador do Centro de Estudos de Medicina Baseados na Evidência, sublinha que, “em termos de custos serão muito semelhantes aos da arteriosclerose em Portugal, com uma diferença: mais de 40% do total, em 2016, foram 1,9 mil milhões de euros só em custos indiretos”.
Por outro lado, segundo este especialista, “a doença de Alzheimer tem cerca de seis vezes o impacto da insuficiência cardíaca, cerca de 2,5 vezes mais do que a depressão resistente ao tratamento farmacológico, que se faz acompanhar de ideação suicida e de depressão grave, e cerca de 1,3 vezes mais a doença cardíaca isquémica”.
Os investigadores concluíram, ainda, que há mais de 143 mil pessoas com demência em Portugal, quase um terço demência moderada. Mas 70% do total tem doença de Alzheimer e as mulheres são as mais atingidas.
A maior parte das despesas é com cuidadores informais: são mais de mil e 100 milhões de euros e apoios sociais, uma verba superior a 550 milhões de euros.
Rosário Zincke Reis, da Associação Alzheimer Portugal, frisa que não se estão a contabilizar os outros impactos negativos nos cuidadores.
“Este é um aspeto fulcral, vem previsto no estatuto do cuidador informal e penso que este estudo nos leva a concluir, muito rapidamente, que vai ter que haver uma revisão estrutural”, refere.
Rosário Zincke dos Reis deixou, ainda claro, claro que é necessário que a Estratégia da Saúde para a Área das Demências, aprovada em 2018, chegue rapidamente ao terreno, através dos planos regionais.
“Há os projetos piloto e os números são ridículos e nós percebemos que o cuidador informal, para já, nem sempre é um familiar. Os amigos e os vizinhos desempenham um papel muito importante”, conclui a responsável da Associação Alzheimer Portugal.