O secretário-geral do PCP anunciou este domingo que o primeiro-ministro vai receber um abaixo-assinado com 100 mil subscritores a exigir uma inversão das políticas do Governo, e acusou PS e a direita de terem as mãos manchadas nas privatizações.
Paulo Raimundo falava no final de um almoço comício nos Bombeiros Voluntários de Vila Franca de Xira, num discurso em que considerou que a proposta de Orçamento do Estado para 2024 serve a direita e os grandes grupos económicos em prejuízo dos trabalhadores e em que também antecipou que o Governo vai recuar no aumento do Imposto Único de Circulação (IUC).
Dirigindo-se a centenas de militantes e simpatizantes do PCP, Paulo Raimundo considerou essencial uma ação "pelo aumento dos salários e pensões, pelo direito à saúde e à habitação, em defesa dos serviços públicos, da creche gratuita para todas as crianças, pela soberania e o desenvolvimento, subscrevendo o abaixo-assinado dirigido ao primeiro-ministro".
"Queremos e vamos recolher 100 mil assinaturas para confrontar o Governo com essas exigências tão importantes para a vida dos trabalhadores, dos jovens e dos reformados e pensionistas. Vamos para a frente, vamos tomar ainda mais a iniciativa, vamos ao contacto, nas empresas, nos bairros, nas freguesias, nos prédios, nos transportes, em todos e em cada um dos locais, mas vamos também testar a capacidade de cada um de nós", desafiou.
Paulo Raimundo foi ainda mais longe no apelo à mobilização dos militantes e simpatizantes comunistas: "É preciso que cada um de nós se assuma como militante desta tarefa coletiva, que cada um assuma que pegando na lista de assinaturas fala com os seus vizinhos, fala com os seus colegas de trabalho, fala com quem se cruza nos transportes, fala com quem está todos os dias" completou.
No seu discurso, além de reiterar críticas à proposta orçamental do executivo do PS - usando a ironia de que "é tão boa que deixa PSD, CDS, Chega e IL sem assunto" -, o secretário-geral do PCP referiu-se às projetadas privatizações na Efacec e na TAP.
"O PS e a direita têm as mãos manchadas nas privatizações da TAP e da Efacec", acusou, falando mesmo em "crimes económicos".
"O Estado, cada um de nós, transferiu para a Efacec milhões de euros, ao que acrescem agora mais 200 milhões de euros. Empresa limpa, capitalizada, com contratos e, perante isto, qual é a opção? O comprador alemão adquire a empresa com o próprio dinheiro da empresa. Já vimos este filme na TAP e não foi assim há tanto tempo. E vamos ver se não é uma manobra deste tipo que também se pretende para a TAP", advertiu.
Antes de ter prometido um combate a estas projetadas privatizações, o secretário-geral do PCP responsabilizou o Governo pela progressiva degradação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e insurgiu-se contra "a imoralidade da transferência pelo Estado de oito mil milhões de euros para o negócio da doença", ou seja, para a saúde privada.
"É preciso travar o desmantelamento que está em curso do SNS - e daqui deixamos o apelo a que se intensifique esta luta. Utentes e profissionais estão unidos na defesa do SNS, este é um elemento determinante que o Governo quer quebrar, tentando criar uma clivagem artificial entre utentes e profissionais", afirmou, aqui numa alusão indireta às negociações em curso ainda sem resultados entre o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e os sindicatos.
Paulo Raimundo manifestou-se depois confiante de que o Governo que não vai conseguir criar essa clivagem, "porque os utentes sabem e conhecem por experiência própria o esforço, o empenho, a dedicação de médicos, enfermeiros e de todos os profissionais que todos os dias garantem, com muitas dificuldades e com demasiadas horas de trabalho, o funcionamento do SNS".
Em relação à situação internacional, o secretário-geral do PCP voltou a condenar o ataque militar de Israel na Faixa de Gaza.
"Quem não atuar é cúmplice", sustentou.
Para o líder comunista, o mundo está perante "um massacre que se desenrola ao mesmo tempo que desfilam nas televisões a hipocrisia, o cinismo e a mais clara cumplicidade com esse mesmo massacre em curso".
"Não há tolerância, não há compreensão possível face ao que está em curso, não há paciência para as lágrimas de crocodilo que, aqui e ali, se vão derramando", acrescentou.