Em entrevista à Renascença, Francisco Guerreiro diz que se for eleito, quer que a União Europeia declare o estado de emergência climática.
Qual é o principal tema que o PAN quer levar para o Parlamento Europeu?
A proteção do ambiente. Temos realmente 10 anos para fazer uma transição para um modelo descarbonizado e sabemos por factos que mesmo os planos mais audaciosos - não só do acordo de Paris, mas também as metas europeias - não têm sido suficientes. As emissões continuam a subir, não estamos a fazer uma transição para um modelo que realmente se preocupe com a gestão responsável dos meios e vemos pelos nossos incêndios florestais, vemos pela tentativa das exploração de hidrocarbonetos na costa, vemos a destruição causada pelos olivais intensivos, pelas culturas também intensivas de estufa na costa vicentina, pela destruição na agropecuária, por ainda não conseguirmos fechar as centrais de carvão, por uma política de mobilidade que ainda não é efetiva. vemos que temos, muito muito caminho a fazer e realmente os dados que nos indicam que temos de fazer esta transição são muito gravosos.
Quanto entrarmos queremos que a União Europeia declare o estado de emergência climática e que adote uma série de medidas audaciosas, até porque nós - como universo de 500 milhões de cidadãos e cidadãos - temos a possibilidade de fazer mais e melhor e influenciar outros blocos políticos para seguirem este caminho porque é um problema global.
É tão global que vários outros partidos começam a ter um discurso também ecológico. Teme a concorrência do Livre, do Nós, Cidadãos ....
Não, de modo algum.
Acha que andam a tentar 'roubar' o espaço do PAN?
Nós nem trabalhamos nessa premissa de concorrência. Se as ideias são boas e se outros partidos as agrupam e as tomam… melhor ainda. Hoje em dia até já outros partidos falam nos direitos animais quando antigamente ninguém falava.
Não estamos aqui a querer puxar a bandeirinha de 'nós é que somos os ambientalistas'. Agora, tem de haver uma coerência do que se fala e do que se pratica e o que temos visto é que já falávamos destas temáticas em 2011, falávamos em 2015 e, por exemplo, quando vemos os acordos de governação que foram feito à esquerda, pelos menos os partidos que estão representados a nível do Parlamento Europeu não há nenhuma prioridade ambiental.
Estas questões já eram muito gravosas em 2015 e este é um exemplo em que vemos que a adaptação veio mais porque poderá agregar votos e não porque realmente se preocupam de modo estrutural com um novo paradigma económico e social e da relação com outros seres que habitam no planeta.
O que nos interesse é trazer mais pessoas para este debate e que mais partidos incluam direitos dos animais, do ambiente, mais direitos sociais e que digam que medidas concretas é que querem para a Europa. Mas o que vemos é muitas vezes são manifestos muito circunstanciais, muito bonitos, mas depois medidas programáticas não têm.
Há aqui, então, uma tentativa de aproveitamento político do discurso sobre as alterações climáticas?
Parece-nos que sim, porque a história recente dita o contrário. Quando olhamos para as políticas implementadas pelos vários partidos, nomeadamente os que têm experiência de governação…vemos uma transversalidade e erros, onde nunca se prioriza a gestão económica dos Estados numa perspetiva ambiental. Hoje em dia, cada vez mais pessoas percebem que o ambientalismo não é um nicho: tem de ser a base de todo o nosso desenvolvimento responsável. Mesmo o conceito de desenvolvimento sustentável já não existe. Temos de ter um desenvolvimento responsável que tome em consideração a gestão sensata dos recursos e estamos a menos de meio do ano e já usamos todos os recursos que deveríamos até ao fim do ano, tendo em consideração a capacidade regenerativa do planeta. Isto é muito gravoso.
Mais do que falar é preciso implementar e desde que entramos no Parlamento nacional temos feito um papel muito proativo e apresentado medidas muitas concretas para alterar este paradigma.
Foram uma surpresa nas legislativas de 2015. Acha que esse trabalho que considera terem desenvolvido nestes quatro anos fará com que sejam uma confirmação com a entrada de um deputado no Parlamento Europeu?
Já tivemos essa confirmação nas autárquicas onde fomos o partido que mais cresceu. Em Cascais, por exemplo, tivemos 5,6%. As pessoas gostam do trabalho que fazemos, não entramos em guerrilhas políticas, olhamos para as propostas pelas propostas, venham elas da esquerda ou da direita - votamos consoante o mérito das mesmas e isso tem feito a diferença.
As pessoas gostam deste modo de estar na política. Também não estamos sozinhos, fazemos parte de um movimento internacional, há mais partidos a crescer na europa com esta filosofia política. Sentimos que há cada vez mais pessoas a pensar como nós.
A abstenção é geralmente elevada nestas eleições. Como é que se vence esta falta de ligação entre as pessoas e as questões europeias?
Não é só em relação às questões europeias. Há um descrédito muito grande da política tradicional. As pessoas estão muito cansadas dos casos de corrupção, da guerrilha política, a falta de valor acrescentado em temáticas que deviam ser consensuais.
O entrincheiramento político existe, há partidos políticos que só trabalham á esquerda e depois dentro da esquerda só trabalham determinados núcleos, à direita o mesmo. As pessoas estão muito cansadas deste tipo de política e aqui há responsabilidade parcial dos meios de comunicação social porque não dão muitas oportunidades de debate a outras ideias, outros paradigmas, outras formas de estar.