O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, anunciou hoje que a Grécia e a Turquia "decidiram promover conversações técnicas" com o objetivo de solucionar a atual crise que opõe os dois membros da Aliança no Mediterrâneo oriental.
Nos últimos dias, Ancara e Atenas intensificaram as suas manobras militares nesta região, onde se registou um súbito aumento da tensão e de incidentes entre as duas frotas.
Os dois países disputam designadamente a partilha das reservas de gás descobertas nos últimos anos.
"Após as minhas discussões com os dirigentes grego e turco, os dois aliados concordaram em iniciar conversações técnicas na NATO para estabelecer os mecanismos de `diminuição da escalada` militar e de acidentes do Mediterrâneo oriental", assinalou Stoltenberg na sua conta Twitter.
"A Grécia e a Turquia são aliados preciosos, e a NATO é uma importante plataforma para as consultas sobre todas as questões relacionadas com a nossa segurança comum", acrescentou.
Na noite de quarta-feira, a Turquia anunciou que a Rússia vai efetuar exercícios de fogo real no Mediterrâneo oriental, em plena escalada das tensões entre a Turquia e os vizinhos e aliados Grécia e a República de Chipre (a parte grega da ilha), que não integra a NATO.
A informação indica que os exercícios russos vão decorrer entre 08 e 22 e de 17 a 25 de setembro em áreas do Mediterrâneo onde estão a operar navios turcos de pesquisa sísmica.
A Rússia escusou-se a comentar no imediato estes exercícios, revelados pela Turquia após os Estados Unidos terem anunciado o levantamento parcial do embargo de armas à ilha dividida de Chipre, em vigor há 33 anos.
Na quarta-feira, o chefe da diplomacia norte-americana, Mike Pompeo, tinha exortado Atenas e Ancara a "reduzirem as tensões" para reverter a escalada no Mediterrâneo oriental.
A Turquia e a Grécia, que aderiram em simultâneo à NATO em fevereiro de 1952 apesar das suas relações historicamente tensas, disputam a partilha das imensas reservas de gás detetadas no Mediterrâneo oriental.
Atenas argumenta que lhe pertence o direito de explorar os recursos naturais em redor das suas ilhas situadas nas proximidades das costas turcas. Ancara recusa, ao considerar que privaria o país de dezenas de milhares de quilómetros quadrados de mar.
Neste contexto, o caso da pequena ilha grega de Kastellorizo, situada dois quilómetros ao largo da costa turca, tem suscitado particulares protestos por Ancara, que rejeita as reivindicações de Atenas de que as águas onde promove as prospeções são parte da plataforma continental grega.
"A Grécia reivindica uma plataforma continental de 40.000 km2 para esta ilha de 10 km2 (...) Tenta aprisionar a Turquia numa zona estreita. Isso, naturalmente, é inaceitável para nós", argumentou na terça-feira o chefe da diplomacia turca, Mevlut Çavusoglu.
"Tentar encerrar a Turquia no interior das suas costas no meio de uma ilha de 10 km2 é uma injustiça", repetiu ainda hoje Erdogan.
Na segunda-feira, o Governo grego tinha considerado que a ameaça de sanções dos seus parceiros da União Europeia poderia persuadir a Turquia a terminar com as suas prospeções marítimas.
Neste contexto, o porta-voz do Governo, Stelios Petsas, frisou que a ameaça de sanções fornece à Turquia uma "estratégia de saída" face à crise.
"Acima de tudo, é do interesse da Turquia, confrontada com uma economia abalada e com tantas frentes abertas, que entenda que de momento a Europa está a oferecer uma saída... [permitindo] uma resolução pacífica dos nossos diferendos para definir as zonas marítimas entre os dois países", disse Petsas.