"Se tivesse que comprar um carro ao João Galamba, ia usar toda a precaução"
02-05-2023 - 10:29
 • Sérgio Costa , Olímpia Mairos

Comentador analisa as recentes polémicas que envolvem o ministro das infraestruturas.

Na análise à mais recente polémica que envolve o ministro das Infraestruturas, o comentador d’As Três da Manhã considera que João Galamba não tem condições para continuar como ministro responsável por um dossier tão sensível como a TAP.

“A menos que esteja completamente isolado deste processo negocial. E a pergunta é se ele vai estar totalmente isolado”, diz João Duque, destacando, no entanto, que a ligação de Galamba à companhia aérea, “pelo menos do ponto de vista público, não é o mesmo que havia quando Pedro Nuno Santos estava no exercício do Ministério, que aí achava-se que ele era um administrador, o presidente da empresa, etc.”

Ainda assim -ressalva o comentador - “sendo o ministro da pasta, da tutela, vai ter uma palavra muito importante a dizer seguramente no processo e não abona em favor do Estado a presença dele num ato de negociação”.

O primeiro-ministro já está reunido a esta hora com João Galamba. Antes disso, António Costa já tinha confirmado que se iria reunir com o ministro das Infraestruturas.

Nas primeiras declarações sobre o caso da exoneração do adjunto de Galamba, o chefe de Governo disse acreditar que o ministro agiu bem num caso inadmissível, que afeta a confiança nas instituições.

O primeiro-ministro garantiu não ter sido informado do envolvimento do SIS na recuperação de um computador com documentação classificada. Do Governo não saiu qualquer ordem para os serviços de informação.

No seu comentário na Renascença, João Duque chama ainda à atenção para a “imagem muito degradante” que tem sido transmitida e que “desvaloriza a palavra de quem pode estar a negociar”.

“Porque João Galamba, de facto, admite-se que, como ministro das Infraestruturas, representa o Estado neste processo, muito provavelmente sem ter uma palavra a dizer, ao lado de Fernando Medina, e vão estar a negociar com a quem vai comprar. E a pergunta é lícita de quem se senta do outro lado é: - ‘quem é esta pessoa que está aqui a falar para mim e a tentar negociar comigo?´”, sinaliza.

“Alguém que descredibiliza a sua palavra, através de tanta trapalhada e de meias-verdades, que, depois, se vão descobrindo que, afinal, nem são meias-verdades, acaba por desvalorizar muito e pôr no Estado uma situação de grande fragilidade”, argumenta.

Na visão do comentador, “era de todo preferível termos pessoas que não estivessem absolutamente nada envolvidas neste processo, para que, quando estivessem a negociar, a outra parte não pusesse em causa a sua palavra e, portanto, aquilo que é a informação que é posta em cima da mesa”.

Questionado sobre se este caso tem potencial para fazer baixar aquilo que um operador privado está disposto a pagar pela TAP, João Duque exemplifica que, "se tivesse que comprar um carro ao João Galamba, ia usar toda a precaução”, porque, explica, “agora conheço muito melhor João Galamba”.

“É este tipo de problemas que se podem colocar, quando estou a negociar com alguém da outra parte que, sinto, pode ter uma palavra cuja veracidade se pode pôr em causa e, portanto, isso desvaloriza bastante a parte vendedora”, conclui.