Observadores denunciam irregularidades nas eleições regionais na Rússia
10-09-2023 - 07:59
• Lusa
O jornal independente Meduza acusou membros das assembleias de voto em Moscovo de alterarem os boletins de voto.
Organizações independentes denunciaram irregularidades e fraudes na votação de três dias para as eleições regionais na Rússia, que terminam este domingo, com casos de compra ou falsificação de votos, incluindo nas regiões ucranianas anexadas há um ano.
O movimento Golos disse na plataforma de mensagens Telegram que as autoridades estavam a exercer pressão sobre os eleitores, sem dar mais detalhes. O Golos, considerado um "agente estrangeiro" por parte do Kremlin, não obteve autorização para observar a votação.
O jornal digital independente Meduza acusou membros das assembleias de voto em Moscovo de alterarem os boletins de voto e referiu casos de compra de votos em cidades como Bratsk, na Sibéria.
O Meduza, registado na Letónia e bloqueado e ilegalizado na Rússia, avançou ainda que eleitores masculinos têm sido alvo de intimidação, com pessoas a ameaçá-los com a realização de chamadas para gabinetes de recrutamento militar.
Em setembro de 2022, a Rússia anunciou uma mobilização parcial para fazer face às perdas na linha da frente, o que permitiu recrutar pelo menos 300 mil soldados, mas provocou a fuga de centenas de milhares de russos para o estrangeiro.
A votação para as eleições regionais começou na sexta-feira e decorre até domingo, para permitir a participação do maior número possível de eleitores, segundo as autoridades.
Nas quatro regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, anexadas pela Rússia em setembro de 2022, a votação antecipada começou há uma semana.
A imprensa russa destacou que a participação ultrapassa os 50 por cento em Zaporijia. Cerca de 2,5 milhões de pessoas votaram em Moscovo e a participação foi a mais elevada no leste do país, especificamente em Kuzbass, onde atingiu quase 70 por cento.
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, votou no sábado por via eletrónica e apelou para que os russos participem nas eleições, num vídeo transmitido pelo Kremlin.
Na sexta-feira, o secretário-geral adjunto da ONU para a Europa, Ásia Central e Américas manifestou numa reunião do Conselho de Segurança "preocupação" e sublinhou que o sufrágio em áreas ocupadas da Ucrânia "não tem fundamento jurídico".
"Lamentavelmente, (...) estas últimas tentativas ilegais de organizar novos chamados processos eleitorais nas áreas ocupadas da Ucrânia minam ainda mais as perspetivas de paz", frisou Miroslav Jenca.
"Temos informações de que o Kremlin predeterminou os resultados das eleições falsas em todo o território soberano ucraniano que a Rússia controla temporariamente", disse na reunião a embaixadora do Reino Unidos junto à ONU, Barbara Woodward.
O embaixador norte-americano Robert Wood denunciou que soldados armados da Rússia estão "a proporcionar a chamada 'segurança' aos eleitores, numa combinação intimidante de balas e votos".