O bispo de Setúbal disse esta quarta-feira que a situação dos estivadores “roça o nível da inconstitucionalidade” e defende soluções que não passem “por cima dos trabalhadores” nem por exigências que coloquem em causa a “importância vital” do porto comercial.
“Esta situação não se pode resolver pela economia, que pretende passar por cima dos trabalhadores, ou por exigências destes que ponham em causa a realidade e a importância vital deste porto para outras economias, empresas e regiões”, afirmou D. José Ornelas.
Em declarações à agência Ecclesia, o bispo de Setúbal disse que em causa estão situações de “injustiça flagrante”, que coloca em causa a dignidade dos trabalhadores.
“Portugal, como Estado de direito, não pode permanecer indiferente à situação em que vivem estes trabalhadores, que roça o nível da inconstitucionalidade e da injustiça flagrante pela forma como são tratados”, sublinhou D. José Ornelas.
“Há que encontrar justiça para que haja prosperidade, sucesso, progresso”, afirmou D. José Ornelas, acrescentando que a Diocese de Setúbal espera que isso “aconteça o mais breve possível”, uma vez que se está a chegar a uma “uma situação limite para todos”.
Para o bispo de Setúbal a precariedade “não pode ser norma” entre os estivadores, mesmo considerando a “especificidade desta atividade e da necessidade de um trabalho mais ocasional”.
“A própria ministra do Mar o tem ressaltado e as entidades nacionais têm ressaltado o facto destes trabalhadores estarem numa situação que não encontra paralelo noutros portos no país”, lembrou o bispo de Setúbal.
O bispo de Setúbal manifestou a preocupação da diocese pelo “impasse nas negociações”, referindo que tem consequências não só a nível regional, mas também nacional e implica “tantos outros trabalhadores e tantas outras empresas”.
É a própria “credibilidade do porto que fica em causa”, advertiu D. José Ornelas.
O bispo de Setúbal disse também que a situação está a ser acompanhada proximamente por “alguns membros” da diocese, que “têm de mais perto seguido e contacto com os trabalhadores e com as diversas entidades”.
“Para nós é importante realçar que a situação complexa que se vive tem de ser ultrapassada e espero bem que as negociações em curso cheguem a bom termo para solucionar esta situação, que possa trazer uma melhoria do serviço que se presta no porto”, indicou D. José Ornelas.
Desde o dia 5 de novembro que trabalhadores contratados ao turno, uns há mais de 10 anos e outros há mais de 20 anos, não comparecem ao trabalho, manifestando-se contra a precariedade e exigindo contratos de trabalho estáveis.