O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou que não acredita que Moscovo utilize armas nucleares na guerra na Ucrânia, durante uma entrevista ao canal alemão Bild TV, após o chefe de Estado russo ter ameaçado com esta possibilidade.
"Não acredito que essas armas sejam utilizadas. Não acredito que o mundo permita que isso aconteça", afirmou o chefe de Estado ucraniano em trechos da entrevista.
Num discurso transmitido hoje, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou uma "mobilização parcial" de cidadãos [300 mil reservistas] na Rússia para apoiar o seu esforço de guerra na Ucrânia e ameaçou o Ocidente com o uso de armas nucleares.
"Amanhã, Putin poderá dizer: 'queremos uma parte da Polónia além da Ucrânia, caso contrário usaremos armas nucleares'", sublinhou o Presidente ucraniano.
"Não podemos aceitar esse tipo de compromisso", afirmou Zelensky.
A Ucrânia "continuará a sua ofensiva", declarou Zelensky, dizendo ainda estar "certo que libertará os territórios" ocupados pela Rússia.
Vladimir Putin "quer afogar a Ucrânia em sangue, incluindo o dos seus próprios soldados", acrescentou o chefe de Estado ucraniano sobre a mobilização parcial decretada pelo Presidente russo.
"[Putin] Precisa de um exército de vários milhões de pessoas para que venham até nós, porque sabe que grande parte dos que vêm estão a fugir", acrescentou o chefe de Estado ucraniano, referindo-se a deserções no Exército russo.
"Já sabemos que mobilizaram cadetes, rapazes que não sabiam lutar. Não conseguiram nem completar o treino", acrescentou.
Volodymyr Zelensky também classificou como uma farsa o referendo de anexação planeado pela Rússia nos territórios ocupados na Ucrânia.
"Noventa por cento dos Estados não os reconhecerão", acrescentou Zelensky.
As autoridades dos territórios separatistas pró-russos da região de Donbass, na Ucrânia, anunciaram que vão realizar de 23 a 27 de setembro referendos para decidirem sobre a sua anexação pela Rússia.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,2 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 5.916 civis mortos e 8.616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.