Angela Merkel decidiu pôr um ponto final em 13 anos à frente do governo alemão e não se reeleger como presidente do Partido Democrata Cristão (CDU). No entanto, mesmo sabendo que o mandato como chanceler vai durar até 2021, a Alemanha e o resto da Europa inevitavelmente começarão a olhar para o que poderia ser uma era mais polarizadora.
O anúncio da decisão chegou na segunda-feira, um dia depois de uma eleição regional no estado de Hesse, no oeste do país, em que os conservadores caíram 11 pontos percentuais.
O partido irmão dos democratas-cristãos, a CSU, há duas semanas teve também o pior resultado na Baviera desde 1950.
Alguns dos apoiantes tradicionais dos dois partidos ficaram furiosos com a decisão de Merkel em 2015 por dar as boas vindas a um milhão de muçulmanos que pediu para entrar na Alemanha. A necessidade de vencer eleições e recuperar eleitorado poderá levar a CDU mais para a direita.
No entanto, isso poderá ser difícil de conciliar com as ideias do parceiro da coligação de Merkel, os social-democratas de esquerda (SPD), que também estão a ser punidos pelos eleitores.
O SPD também teve uma derrota eleitoral em Hesse, onde caiu para quinto, o pior resultado no estado desde 1946.
O partido está sob pressão dos apoiantes para mostrar que está a obter resultados palpáveis ao permanecer no governo.
Se a CDU se desviar mais para a direita, e o SPD for noutra direção, o cenário mais provável é que a atual coligação acabará por se desmoronar, mais cedo ou mais tarde.
Um governo minoritário ou uma aliança com os democratas liberais, que se afastaram das negociações de formação de governo no ano passado, poderá então ser colocada em cima da mesa.
Também haverá consequências para o resto da Europa se a CDU guinar à direita.
Merkel, ou o sucessor, pode ser menos tolerante com países como a Itália, que desrespeitam as regras orçamentárias da União Europeia. Esse cenário ganha forma quando a CDU está a tentar reconquistar os apoiantes tradicionais, que tipicamente premeiam a disciplina orçamental.
Merkel até pode ser lembrada pela capacidade de conseguir consensos, mas a pressão política doméstica significa que o sucessor dificilmente terá esse luxo.