“Podemos dizer que é um caso típico de quando os propósitos são muito louváveis, mas as palavras e os compromissos vão muito mais depressa do que a capacidade de resposta”, justifica o antigo ministro da Defesa, para quem o mecanismo de relocalização “ era uma boa ideia e generosa”. Visava recolocar 160 mil refugiados sírios e eritreus entre os países europeus e saldou-se pela recolocação, até este momento, de cinco mil.
Para Pedro Santana Lopes, nem tudo é mau, apesar de um “desvio muito grande” no número de colocações de refugiados nos diferentes países que se resumem numa “percentagem irrisória”. O antigo Primeiro-ministro considera que a União Europeia tem trabalhado de modo positivo na organização dos núcleos de refugiados que existem.
“Apesar de tudo, julgo que a organização das tarefas melhorou. Mas ao nível de despesa necessária para aguentar determinado tipo de comportamentos, apesar das dificuldades dos refugiados, quanto custam todos aqueles transportes e embarcações? Como é que os que financiam os lugares terão recurso e disponibilidades para suportar estas operações? Há um garrote a apertar”, alerta o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Em resumo, “ninguém pode dar uma situação explosiva como estas como estabilizada sem ser entre parêntesis".
Reforçar missões militares
Actuar a montante continua a ser fulcral na gestão da crise migratória, argumenta Vitorino. O comentador da Renascença apela a um maior envolvimento da comunidade internacional na garantia de sustentabilidade dos campos de refugiados da Jordânia, do Líbano ou da Turquia,
“E é isso que provavelmente é a prioridade neste momento, porque há pessoas que estão a tentar entrar nos campos, na Jordânia e no Líbano, e esses campos já não têm maior capacidade de resposta”, observa o militante do PS, favorável a um reforço simultâneo de contenção dos fluxos migratórios no Mediterrâneo Oriental e também no Central.
“As missões militares, de fronteiras mas também de apoio e salvamento, vão ter de ser reforçadas porque hoje a grande pressão está aí. Está no Mediterrâneo Central, oriunda da Líbia e agora cada vez mais do Egipto. Atenção a esta novidade recente: esta semana houve também um grande naufrágio. Os refugiados começam a sair, não apenas das praias da Líbia, mas também das praias do Egipto. E enquanto na Líbia não há Estado, no Egipto existe um Estado e, aliás, toda a gente diz, bastante pesado."
Santana Lopes: “Se Georgieva for a votos e Guterres ficar à frente, quero ver como é”
Santana diz que “nem percebe” como a nova candidata búlgara é aceite na corrida ao cargo de Secretário Geral das Nações Unidas. Kristalina Georgieva aparece em cena quando o processo leva já meia dúzia de votações e audições em Nova Iorque, onde António Guterres consolida a sua vantagem semana após semana.
“Se a senhora já tinha isto tudo previsto e já se falava nisto há muito tempo, não percebo como é que um jogo de negociação impedia que se dissesse que não vale a pena ir por aí. Vira-se contra os próprios. Se António Guterres não for eleito, tudo isto redunda num circo. Não tem outro nome. Andaram a usar e a explorar as pessoas. Acho uma coisa burlesca e revoltante. Não vou mais além do que digo porque espero que António Guterres vença e não quero estar dar mais crédito a isto. Se ela for a votos e Guterres ficar outra vez à frente, quero ver como é que eles fazem. Com veto ou não veto a Guterres, se ele ficar à frente da outra senhora…”, desabafa Santana Lopes.
A candidatura da búlgara Kristalina Georgieva conta com um apoio português. O antigo eurodeputado Mário David, militante do PSD e homem muito próximo de Durão Barroso, confessou já que não se sente menos patriota por trabalhar numa candidatura que concorre contra António Guterres.
Santana Lopes prefere não aprofundar o tema, mas deixa um recado. “A ONU não é o Parlamento Europeu. Não são as divisões das famílias políticas europeias. O que está em causa na ONU é um processo transparente que até agora decorreu de uma forma que todos saudámos e de facto não é curial que apareça alguém que quer ir à Assembleia-Geral ser ouvida no fim do percurso”, insiste o antigo líder do PSD.