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O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) garante à Renascença que a partir do final da próxima semana vai ser possível comprar máscaras sociais em tecido ou cirúrgicas – nacionais e importadas - em várias lojas e supermercados, a preços próximo do valor de custo. Gonçalo Lobo Xavier acredita que os empregos agora criados no sector se vão manter para lá da crise.
Nesta entrevista, o responsável assegura que os prazos de entrega estão mais curtos e os retalhistas não acabaram com as promoções, só deixaram de fazer publicidade às reduções. Acrescenta ainda que a associação apoia o uso obrigatório de máscaras durante as compras, por parte dos clientes.
Com a pandemia disparou a procura por produtos de proteção, como álcool, gel desinfetante e máscaras. Como está o abastecimento e disponibilidade destes produtos?
O que posso dizer, com tranquilidade, é que todos os nossos retalhistas se estão a abastecer no mercado e a preparar a disponibilização em cada loja de máscaras de diversas qualidades para disponibilizar ao consumidor, tendo em vista a sua segurança, a reabertura da economia e uma certa normalidade possível.
No final da próxima semana, são essas as orientações que nos têm dado os nossos fornecedores, quer portugueses quer internacionais, já teremos máscaras disponíveis nas nossas lojas. Estão em curso todas as iniciativas, do ponto de vista logístico, para em maio podermos abastecer abundantemente o mercado e disponibilizar as máscaras para que os portugueses possam sair do seu confinamento em segurança.
Estão a contatar todas as indústrias nacionais que reestruturaram a produção para responder a esta necessidade de produtos de proteção?
Sim. A APED não se mete na política comercial dos retalhistas, mas temos tido a preocupação de falarmos com associações, como a Associação Têxtil de Portugal, no sentido de disponibilizar as listas de empresas em condições de fornecer os nossos retalhistas. São negociações bilaterais, entre empresas e indústrias, as indicações que a APED tem é que o processo está a correr bem.
É expectável que, no final da próxima semana, já tenhamos as máscaras à venda no retalho alimentar e parafarmácias. Em maio estamos certos que, quer esta produção nacional quer a importação, vai entrar em velocidade cruzeiro e estaremos em condições de todos se abastecerem.
Já existe alguma indicação sobre os preços?
Os preços variam. A máscara social têxtil, com várias utilizações, pode ir até cinco utilizações e, naturalmente, tem um preço diferente de uma máscara cirúrgica para utilização de quatro horas. Não arriscaria referir preços, pois está relacionado com as negociações.
Com a orientação que o Governo deu, limitando as margens de lucro na venda destes produtos, os portugueses podem estar certos que os produtos serão vendidos a um preço muito equilibrado - diria que vamos ter, quase, retalhistas a vender a preço de custo.
Não queremos nem podemos fazer negócio com um assunto tão sério. O nosso negócio é a venda de bens alimentares, aqui estamos a tratar de um produto essencial para a segurança dos portugueses.
E o álcool e o gel desinfetante, quando estará garantida a oferta à velocidade cruzeiro?
Estamos perante uma dificuldade de abastecimento no mercado. Algumas indústrias nacionais disponibilizaram as destilarias para a produção deste produto e estamos no mercado à procura. Já temos há venda, mas não em quantidades suficientes para a procura. Também no decorrer do mês de maio estaremos em condições de fornecer com um caudal mais elevado.
Há bancos que anunciaram que nos balcões todos os clientes terão de usar máscaras. O retalho já discutiu esta medida, acha que devia ser imposta aos clientes?
Os retalhistas do alimentar tiveram a preocupação de dotar os colaboradores, desde o início, deste equipamento de proteção individual. Como dizem os médicos e especialistas, a máscara não defende o próprio, mas a pessoa com quem estamos. Portanto, esta dupla utilização da máscara, pelo colaborador e pelo consumidor, defende ambas as partes.
Não sei se irá aparecer essa recomendação por parte do governo, mas não espanta que os bancos tenham tido esse comportamento.
Nós vamos continuar a seguir todas as orientações da Direção-Geral da Saúde. Era importante, de facto, que fosse dado esse sinal de segurança entre consumidores, para se poderem mover com outro tipo de comportamento nas lojas.
Acabou a corrida ao supermercado registada em março e a história das prateleiras vazias, mas o consumo continua a aumentar?
Depois de duas a três semanas de um consumo que nós chamamos de inusitado por parte dos portugueses, em que literalmente foram abastecer as suas dispensas, achando que o retalho alimentar não ia funcionar normalmente - felizmente isso não aconteceu - o consumo estabilizou.
Portanto, não é totalmente correto dizer que continua a crescer. Cresce em alguns segmentos muito específicos, mas, de um modo geral, o consumo estabilizou e, quando comparado com as mesmas semanas do ano anterior, até decresceu. A leitura é muito simples, as pessoas abasteceram as suas casas e cumpriram o confinamento e, depois de terem verificado que as operações iam continuar a funcionar, voltaram com as cautelas necessárias aos seus padrões de consumo.
O que é que se passa com as promoções? Os dados indicam que há menos compras em promoção, foram retiradas?
As pessoas estão a ter outro tipo de comportamentos, estando a valorizar mais a compra de produtos alimentícios. Daí o crescimento muito significativo nas frutas e legumes, na ordem dos 17%. No caso das frutas com uma preponderância muito grande nas que são ricas em vitamina C, como a laranja, limão, tangerina e kiwi.
Estamos desde o princípio a trabalhar com várias cadeias de abastecimento, os produtores nacionais e a indústria. Curiosamente, tinha sido um pedido dos produtores para que a distribuição terminasse com as promoções. Ora, em Portugal, tendencialmente, nos últimos três anos, 49% das vendas no alimentar eram feitas em promoção e o mercado habituou-se a isso e funcionava bem. Entendemos que não podíamos terminar com as promoções, até porque isso podia ser mal-entendido pelo consumidor.
Falou dos produtores nacionais. Há vários anos que se queixam de não terem condições de acesso às grandes superfícies, este acesso está a ser facilitado?
O que acontece agora é que, com o fecho do canal Horeca, dos hotéis e dos restaurantes, o canal da distribuição alimentar, das superfícies e dos associados da APED torna-se privilegiado para os produtores escoarem os seus produtos.
Nós temos feito um esforço muito grande no sentido de acomodar mais produtores e fornecedores, que não estavam na nossa rede, para os ajudar a escoar os seus produtos. Até agora as cadeias logísticas estavam dimensionadas para receberem os produtos nos entrepostos, para ajudar os pequenos produtores regionais, que de outra maneira não conseguiam vender os seus produtos, agora entregam diretamente na loja, dentro das regras de segurança e qualidade que o sector está habituado.
Que impacto é que tem nos preços?
Naturalmente tem um impacto directo. Aliás, todos os estudos recentes indicam que no cabaz de preços habitual, para se medir estas flutuações do mercado, os preços ou se mantiveram ou, nalguns casos, baixaram.
E as promoções? Diminuíram?
Nós sempre nos comprometemos, desde o início desta pandemia, de que, por um lado, não podíamos acabar com as promoções, porque isso era um sinal errado ao consumidor, mas sempre dissemos que íamos diminuir a publicidade às promoções. Por isso, os habituais folhetos, a publicidade nos órgãos de comunicação social, tudo isso diminuiu ou até terminou, no sentido de haver aqui um consumo responsável por parte dos portugueses.
A mensagem é: as promoções não vão acabar, o que vão é ajustar-se à realidade do mercado e sempre com o objetivo de apresentar o preço de venda final ao consumidor equilibrado e justo para todos os elos da cadeia.
Também a preocupar os consumidores está a demora nas entregas ao domicílio, com o prazo nalguns casos a ultrapassar um mês. O que está a ser feito?
De repente os portugueses viraram-se para o canal online. Posso dizer que em todos os retalhistas a procura cresceu nesse canal seis vezes. O que acontece é que, de facto, nas primeiras semanas verificámos que as estruturas não estavam dimensionadas para essa procura. Posso dizer que em 2019 as vendas no online do alimentar representavam 4% do total.
Tivemos um crescimento brutal que, no nosso entender, é positivo e veio para ficar, mas naturalmente teve constrangimentos: do ponto de vista técnico, das infraestruturas tecnológicas, que não estavam preparadas para um afluxo de clientes tão grande, e que foi rapidamente corrigido; numa segunda dimensão, tiveram que redimensionar a logística dos transportes para melhorar as entregas.
Várias empresas tiveram mesmo necessidade de contratar.
Sim. Ainda tivemos a oportunidade de criar novos postos de trabalho para estas áreas e que vieram para ficar porque, de facto, se há algo que se transformou é esta questão dos portugueses agora se terem virado para o online como meio para fazerem as compras de bens alimentares.
Qual é neste momento o prazo médio de entrega?
Não me posso comprometer, porque temos várias insígnias com prazos diferentes, mas diria que temos casos em que já se consegue entregar numa semana e mesmo em menos de cinco dias. Tudo depende da marca, mas desceu consideravelmente, tendo em conta os primeiros dias da pandemia, em que os prazos eram quase um mês.
Mas ainda há casos de um mês ou mais?
Admito que ainda haja alguns casos que estejam com o canal ainda muito sobrecarregado, mas a tendência e todos os investimentos foram feitos para, precisamente, mitigar estes atrasos e podermos ter um canal a funcionar com a exigência do consumidor e redimensionado à realidade portuguesa.
Portugal contabiliza 820 mortos associados à covid-19 em 22.353 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
O país cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o decreto presidencial que prolongou a medida até 02 de maio prevê a possibilidade de uma "abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais".
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias France-Presse, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 190 mil mortos e infetou mais de 2,6 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 708 mil doentes foram considerados curados.