Os doutorados seguem cada vez menos a carreira de professor universitário ou investigador dentro do sistema científico nacional.
É o que conclui um estudo da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) que pretende aferir o impacto do financiamento da FCT na carreira de investigação.
É um documento inédito e que permite olhar para o percurso de 5.819 pessoas que, entre 1995 e 2012, beneficiaram de bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, uma amostra das 31.137 pessoas que, entre 1990 e 2021, tiveram este tipo de financiamento.
Francisco Santos, vice-presidente da fundação, explica que, na análise dos dados encontra-se uma diferença temporal.
“Os doutorandos ou os alunos que se doutoraram no final dos anos 90 tiveram uma progressão de carreira muito mais ligada ao sistema nacional de ciência e tecnologia, nomeadamente ao nível da docência, enquanto os doutorandos mais recentes não têm essa essa prevalência ao nível da docência no Ensino Superior”, explica.
Um cenário que pode não ser um problema, assegura, se forem encontradas alternativas, e é esse o caminho que a FCT tem “procurado fazer”.
Francisco Santos destaca que importa “diversificar os percursos, promover uma maior capilaridade, uma visão mais abrangente do que é ser investigador, que vai naturalmente desde o sistema de ensino e de investigação nas universidades, mas também todo o ambiente não académico”.
Nesta entrevista à Renascença, Francisco Santos explica que, fora da academia “a área do digital é onde provavelmente é mais fácil” integrar doutorados, “mas também em muitas áreas da engenharia essa transição ocorre com relativa facilidade”. Mais complicado será “do lado das ciências sociais humanas”, onde “provavelmente há certas áreas onde essa transição é mais complexa”.
Nesses casos, “o objetivo é tentar promover o maior incentivo para que essa transição ocorra, seja através da aproximação das universidades ao setor público que poderá beneficiar desse conhecimento e desses recursos humanos altamente qualificados, como das empresas que naturalmente também beneficiariam dessa aproximação”, adianta.
Ao mesmo tempo que Francisco Santos defende a diversificação de mercados, o vice-presidente da FCT enaltece os programas que pretendem dar estabilidade à carreira de investigação dentro do setor público. É o caso do programa FCT-Ténure, lançado o ano passado, para contratar sem termo mil investigadores, um programa que vai ter nova edição em 2025, embora para apenas 400 investigadores.
“O aviso de abertura já estabelece isso. Em 2023 abrir mil posições e no final de 2025 abrir mais 400”, explica, acrescentando que “este escalonamento e estes números foram discutidos e acordados não só com os reitores, com o CRUP [Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas], mas também com outras organizações e sindicatos representantes dos investigadores”
“Todo o raciocínio foi não colocar um peso burocrático demasiado grande nas instituições, que as obrigassem a concorrer todos os anos”, reforça.
Questionado sobre se os reitores estão alinhados com a necessidade de contratar investigadores, Francisco Santos lembra que a contratação de investigadores ao abrigo deste programa, quer sejam contratados como professores, quer sejam contratados como investigadores, prevê um limite de quatro por semana de aulas, permitindo mais tempo para a investigação.
Francisco Santos, vice-presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, refere ainda que os dados do estudo sobre o percurso dos bolseiros de doutoramento indicam que 88% concluíram a qualificação, uma “taxa elevada a nível internacional”, remata.