Vasco Brazão, ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar (PJM), negou esta terça-feira em tribunal ter feito um acordo de impunidade com o autor do furto do material dos paióis de Tancos e mostrou-se arrependido de não ter comunicado à Polícia Judiciária a recuperação do armamento.
No primeiro dia de interrogatório no julgamento do processo de Tancos, que decorre em Santarém, o ex-investigador da Polícia Judiciária Militar (PJM) reconheceu que devia ter partilhado informações com a PJ quando o material bélico foi recuperado, em outubro de 2017 na Chamusca, e negou ter feito um acordo com o mentor/denunciante do furto de Tancos, o arguido João Paulino.
Vasco Brazão garante que nunca assumiu, nem formal nem informalmente, qualquer investigação ao furto de armas em Tancos e que a Polícia Judiciária não lhes transmitia qualquer informação.
O arguido confirmou perante o juiz que o capitão Bengalinha foi afastado pelo diretor-geral da PJM, o que considerou ser a “decapitação” da investigação.
A partir do afastamento do capitão Bengalinha foi o coronel Estalagem o oficial de ligação entre a PJM e a Polícia Judiciária. Era ele que recebia toda a informação da equipa da PJM onde se enquadrava.
Vasco Brazão afirmou ter sido convidado para assumir a investigação, mas não aceitou.
O antigo porta-voz disse ainda que a Polícia Judiciária civil não lhes transmitia quaisquer informações, mas conhecia pormenores do processo.
Quando mencionou o nome do ex-fuzileiro João Paulino numa reunião, os inspetores da PJ responderam que não se podia mexer nele até ao Natal.
Vasco Brazão admitiu também que ficou desagradado com a delegação de competências na Polícia Judiciária.
Alegou que esteve preso durante meses, em casa, com indícios que a PJ sabia serem falsos, ao afirmarem que ele estava a coordenar este grupo, quando ele estava no estrangeiro.
Foi uma construção de uma história “à medida”, declarou o arguido.
O processo de Tancos tem 23 acusados, incluindo o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, o ex-diretor nacional da Polícia Judiciária Militar (PJM) Luís Vieira, o ex-porta-voz da PJM Vasco Brazão e o ex-fuzileiro João Paulino, que segundo o Ministério Público foi o mentor do furto, os quais respondem por um conjunto de crimes que vão desde terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça e prevaricação até falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
Azeredo Lopes está acusado dos crimes de denegação de justiça e prevaricação, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder e denegação de justiça, num processo que investigou o furto e a encenação do achamento do armamento furtado dos paióis de Tancos. Nove dos arguidos são acusados de planear e executar o furto do material militar dos paióis nacionais e os restantes 14, entre os quais Azeredo Lopes, que se demitiu do cargo político no seguimento do processo, e os dois elementos da PJM, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
O caso do furto das armas foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, tendo a alegada recuperação do material de guerra furtado ocorrido na região da Chamusca, Santarém, em outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.