Um turista inglês de 53 anos morreu, na segunda-feira, no concelho da Guarda após ter-se sentido mal quando fazia um trilho. De acordo com o Jornal de Notícias, a mulher chamou ajuda e os Bombeiros Voluntários de Manteigas foram chamados ao local.
O comandante Paulo Sequeira conta ao JN que foi dito aos bombeiros que não havia disponível nenhuma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) da Guarda. Deviam os homens da corporação “transportar a vítima, em manobras, até à unidade de saúde”.
À chegada, o inglês encontrava-se em paragem respiratória. Os bombeiros tentaram reverter a paragem, mas sem sucesso. O homem chegou ao hospital da Guarda sem vida.
Falta de médicos torna os atrasos mais "expectáveis"
O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) confirmou ao Jornal de Notícias que a VMER da Guarda esteve inoperacional entre as 14h00 e as 20h00 de segunda-feira, por falta de médicos.
À Renascença, o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), Rui Lázaro, descreve o caso como "preocupante" e resultante dos problemas que se verificam no Sistema Nacional de Saúde.
"Falhas em socorrer ocorrem, se não todos, quase todos os dias. Em alguns casos, os veículos demoram uma hora até chegarem às vítimas. Muitas vítimas não têm uma hora de vida até que sejam prestados cuidados de emergência."
Pedro Ventura, adjunto de coordenação da VMER da Guarda, explicou ao Jornal de Notícias que, este mês, 20% dos turnos estão inoperacionais. Quando questionado pela Renascença se a razão é a recusa dos médicos de fazerem horas "extra", o presidente do sindicato responde: "Não necessariamente ou, pelo menos, não exclusivamente, uma vez que já acontecia antes desta recusa, principalmente nos meios do interior. Obviamente que com esta recusa será expectável que aumente a inoperacionalidade."
Mas porque é que a ajuda demora tanto a chegar?
“Temos dito e já o dissemos na Assembleia da República: temos portugueses de primeira e de segunda ao nível da emergência médica”, acusa o representante do sindicato numa referência às diferenças entre o que se passa nas grandes cidades e no resto do país.
"A situação no interior é completamente diferente, já que a maioria dos hospitais está a uma hora de muitas populações. Apesar dos constrangimentos do trânsito, nas grandes cidades temos hospitais a 5-10 minutos, No interior, hospitais e serviços de emergência médica estão a mais de uma hora".
Rui Lázaro explica que há dois fatores principais que explicam os atrasos: "Por um lado, o INEM continua sem rever os fluxos de triagem e envia ambulâncias para ‘praticamente tudo’, por outro, a escassez de recetividade por parte dos serviços de urgência acaba também por condicionar e demorar mais as ocorrências, mantendo os meios ocupados durante mais tempo em cada ocorrência. Tudo somado, tendo em conta as dificuldades do trânsito, traz atrasos no socorro, o que pode fazer a diferença em casos pontuais."
O que pode ser feito para melhorar?
O porta-voz da STEPH afirma que contar com mais técnicos de emergência seria bom para a prestação do socorro, mas que só essa medida não é suficiente. “É preciso usar melhor os meios que temos, com mais competências, melhores triagens para que [as VMER] possam ir só para situações de real emergência”, argumenta.
Rui Lázaro adianta que esta proposta foi feita ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e que foi “muito bem acolhida”.
“O senhor ministro da Saúde confirmou que é intenção do Ministério alargar as competências de emergência médica e os cuidados às ambulâncias. Portanto, temos a expectativa que isto se resolva a médio prazo."