A Soflusa – empresa que garante o transporte fluvial entre Lisboa e o Barreiro – não prevê quando é que será reposta a normalidade na circulação dos barcos entre as duas margens do Tejo. Foi a resposta que a empresa deu à Renascença quando questionada sobre as perturbações de serviço previstas para a semana entre 10 e 17 deste mês. O aviso estabelece a supressão de várias carreiras à noite e ao início da manhã e a criação de outras, mas em menor quantidade. Desde sexta-feira já foram suprimidas 24 carreiras, nos dois sentidos.
Em causa está a falta de pessoal, que a empresa reconhece. Segundo a Renascença apurou junto de fontes sindicais, neste momento há várias tripulações incompletas: cinco delas não têm mestre, noutras faltam marinheiros e maquinistas. Por agora é o período da noite que está a ser mais afetado mas esta tarde, segundo apurámos, não se realizaram dois serviços porque as tripulações estavam incompletas. Quando as escalas mudarem, as falhas deverão sentir -se nos horários diurnos, nomeadamente nas horas de ponta da manhã e tarde.
À espera de autorização das Finanças para contratar
Com a entrada em vigor do novo passe, a Soflusa reformulou os horários, criando mais algumas carreiras. E se os trabalhadores disponíveis já não chegavam para as necessidades anteriores, agora a situação agravou-se.
Segundo fontes sindicais, as escalas estão frequentemente incompletas, o que obriga a recorrer a trabalho extraordinário, trocas de serviço ou ao prolongamento do horário.
A administração da Soflusa revelou à Renascença que está à espera de autorização da tutela (Ministério do Ambiente) e Ministério das Finanças para fazer contratações: doze trabalhadores marítimos (marinheiros e maquinistas práticos de 1ª classe) e três para as bilheteiras. Em simultâneo abriu um concurso interno para mestres, já que o acesso a esta categoria se faz através da carreira de marinheiro.
Situação pode agravar-se nos próximos dias
A sobrecarga de trabalho e a falta de trabalhadores para preencher as escalas já levaram os sindicatos que representam os mestres a entregar um pré-aviso de greve às horas extraordinárias a partir de dia 23, o que ainda poderá dificultar mais a realização do serviço fluvial entre o Barreiro e Lisboa.
Esta tarde os marinheiros também reuniram em plenário no Terminal do Barreiro e decidiram pedir uma reunião à administração da Soflusa, liderada por Marina Ferreira. Mas deixaram já a ideia que também poderão avançar para a greve ao trabalho extraordinário.
Um passo importante poderá ser dado amanhã na reunião entre três sindicatos (Sindicato nacional dos Ferroviários, SIMAMEVIP e Sindicato da Mestrança e Marinhagem da Marinha Mercante) e o Secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes. Mas na prática, é o Ministério das Finanças que tem a última palavra.
Nunca tinha acontecido: passageiros passaram a noite no terminal do Terreiro do Paço
O incidente mais grave neste processo ocorreu na noite de sexta-feira para sábado. O mestre que realizava a carreira das 00,30h entre o Terreiro do Paço e o Barreiro sentiu-se mal e acabou por ter que suspender o serviço para ir ao hospital. Continua, aliás, com baixa médica. Para os horários da manhã e da tarde há uma tripulação de reserva, não acontecendo o mesmo durante a noite.
Fonte oficial da Soflusa confirmou à Renascença que a empresa tentou que as ligações fossem retomadas por outro mestre mas este não aceitou fazer o serviço. Por isso, quatro carreiras acabaram por ser suprimidas, afetando duas centenas de pessoas. Algumas conseguiram chegar ao destino pelos seus próprios meios mas cerca de 50 – segundo a Soflusa – acabaram por passar a noite no Terminal Fluvial do Terreiro Paço e só às 7,55h (quando se realizou a primeira carreira de sábado) é que seguiram para o Barreiro. “Nunca tal tinha acontecido”, referiu uma fonte sindical.
Questionada sobre a eventualidade dos passageiros afetados virem a ser recompensados pela Soflusa, a porta-voz da empresa referiu que até ao momento não houve qualquer pedido de compensação mas, a existirem, provavelmente não serão atendidos. A empresa fluvial considera que os constrangimentos ocorridos constituem uma situação que ultrapassa a sua capacidade de resposta.