São 8h00, o termómetro do carro assinala 6 graus Celsius. Abrir a porta é a certeza de um choque térmico.
Minuto após minuto, os pais vão entregando os filhos no Jardim de Infância e Escola Básica da Pousa, no concelho de Barcelos, uma escola onde o frio é de tal maneira insuportável que são os próprios professores a recomendar que as crianças levem mantas e casacos quentes para enfrentar as longas horas de período letivo.
"Há vidros partidos, caixilharias em madeira completamente apodrecidas, humidade por todo o lado, casas de banho num estado deplorável, a ponto de haver meninos que têm medo de utilizá-las". O retrato é feito à Renascença por Eugénia Eira, da Associação de Pais.
A Escola da Pousa funciona em dois edifícios que albergam 40 crianças no jardim de infância e 80 alunos do primeiro ciclo do ensino básico. E já não tem obras há mais de 15 anos.
Um problema que atravessa gerações
Carla, mãe de uma criança do jardim de infância, diz que a sua mãe [avó da criança] "tem, hoje, 63 anos" e garante que "a escola está rigorosamente igual... Nada mudou!". O que vai valendo "é o facto de o jardim de infância ainda ter um revestimento em amianto que, apesar de ser muito precário, vai garantindo um pouco mais de isolamento".
Cenário bem diferente é o que se vive no edifício do primeiro ciclo.
Luís, pai de um aluno do quarto ano, reconhece que a sala onde o filho tem aulas "é, provavelmente, a mais degradada de toda a escola".
O frio é tanto que "os professores e as funcionárias servem chá quente aos meninos para garantir que eles têm o mínimo de conforto", sublinha.
Em novembro do ano passado, mais de 30 crianças ficaram em casa com sintomas de febre.
Uma delas foi a filha de Manuela que, "todos os dias leva a mantinha dela para a escola", porque os sistemas de aquecimento nas salas de aula "são coisa rara, e isso é uma situação que não se admite".
Num dos casos mais graves registados este inverno, "houve uma criança que apresentou um quadro de hipotermia", denuncia Eugénia Eira, da Associação de Pais da Escola da Pousa.
Esgotada a paciência dos pais, a fachada do estabelecimento cobriu-se de negro, com tarjas de contestação ao estado de degradação avançada que, por agora, não tem fim previsto.
No próximo dia 29, os pais prometem manifestar-se à porta da escola, "fechá-la a cadeado... Nesse dia não há aulas para ninguém", remata Eugénia Eira.
Contactada pela Renascença, fonte da Câmara de Barcelos explica que o projeto de empreitada de requalificação ronda um milhão de euros e já está pronto.
O problema é que não há dinheiro. E, enquanto não há dinheiro, os edifícios do primeiro ciclo e do pré-escolar mantêm-se degradados, com coberturas que deixam passar a chuva e janelas atravessadas pelo frio.
Na Pousa, não há semana sem crianças doentes.