O último álbum de Carlos do Carmo, "E Ainda...", em que o artista canta poemas de Sophia de Mello Breyner, Hélia Correia, Júlio Pomar e Jorge Palma, entre outros, é editado nesta sexdta-feira.
Carlos do Carmo morreu no passado dia 1 de janeiro, em Lisboa, aos 81 anos e, na opinião do musicólogo Rui Vieira Nery, foi "a maior força renovadora do fado, depois de Amália Rodrigues [1920-1999]".
O álbum esteve anunciado para o passado dia 27 de novembro. E foi antecipado pelo próprio fadista no seu espetáculo de despedida dos palcos, realizado a 9 de novembro de 2019, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com interpretação de canções como "Mariquinhas.Com", um poema de Vasco Graça Moura, com música de Paulo de Carvalho, que glosa um dos fados mais conhecidos do repertório fadista, "A Casa da Mariquinhas", de Silva Tavares e Alfredo Duarte, uma criação de Alfredo Marceneiro.
Vasco Graça Moura, Herberto Helder, José Saramago e Mia Couto, são outros autores que se cruzam no disco.
Segundo a nota de apresentação da discográdica, o álbum nasceu "da intuição e da certeza de que Carlos do Carmo tinha ainda fados por cantar". "Fados que, nalguns casos, nem suspeitavam que pudessem ser fados".
Em "E Ainda..." Sophia e Herberto são dois autores estreantes na voz de Carlos do Carmo.
Na composição musical, o álbum conta com autorias de Victorino D"Almeida, que já assinara para o fadista, entre outros, o "Fado do Campo Grande", Mário Pacheco, Paulo de Carvalho, autor da música de "Lisboa Menina e Moça", e José Manuel Neto, guitarrista que o acompanhou várias vezes, tanto em estúdio como em palco, e que abre o disco com um solo.
A edição física de "E Ainda..." conta com dois CD – o álbum de originais e o registo do espetáculo no Coliseu dos Recreios, em 2019.
Será também disponibilizada uma "versão limitada e especial", em que, além dos dois discos, se encontra um DVD com o concerto de 2019 e um vídeo com uma entrevista ao fadista, feita ao longo da gravação do álbum. Esta versão tem também imagens inéditas de estúdio e de ensaios, segundo a Universal Music.
Carlos do Carmo recebeu no ano passado o Prémio Vasco Graça Moura - Cidadania Cultural, atribuído pela Estoril Sol, que o considerou "individualidade exemplar numa área que Vasco Graça Moura muito prezava e para a qual contribuiu com numerosos poemas", o fado, segundo nota do juri ao qual presidiu o gestor Guilherne d"Oliveira Martins.
O galardão distinguiu igualmente "o papel fundamental de Carlos do Carmo na divulgação dos maiores poetas portugueses", o que este álbum comprova.
Filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, em Lisboa, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística, em 1964, Carlos do Carmo construiu um repertório que inclui, entre outros poetas, Frederico de Brito, Maria do Rosário Pedreira, Mário Moniz Pereira, Barbosa du Bocage e José Carlos Ary dos Santos,.
A sua discografia inclui temas como "Por Morrer uma Andorinha", "Bairro Alto", "Canoas do Tejo", "Os Putos", "Lisboa Menina e Moça", "Estrela da Tarde", "Pontas Soltas", "O Homem das Castanhas", "Trem Desmantelado", "À Memória de Anarda" e "Um Homem na Cidade", entre outras canções.
Com a canção "Flor de Verde Pinho", sobre o poema homónimo de Manuel Alegre, representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção, em 1976.
Carlos do Carmo atuou no Olympia, em Paris, nas Óperas de Frankfurt e de Wiesbaden, na Alemanha, além do Canecão, no Rio de Janeiro, e do Savoy, em Helsínquia, entre outras salas.
Em 2014, recebeu um Grammy Latino pelo conjunto da obra, e o Prémio Personalidade do Ano/Martha de la Cal, da Associação Imprensa Estrangeira em Portugal.
No ano seguinte, recebeu a mais elevada distinção da capital francesa, a Grande Médaille de Vermeil, e, no ano seguinte, o Estado português condecorou-o como o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
No concerto no Coliseu dos Recreios, em 2019, recebeu, em palco, a chave da cidade de Lisboa, uma honra dada habitualmente aos chefes de Estado que visitam Portugal.