​O Chega no Parlamento
04-02-2022 - 06:15

É preferível que quem não aprecia a democracia liberal, em vez de ingressar em partidos democráticos, se acolha num partido não democrático. Em vários países europeus barreiras legais contra forças populistas de extrema-direita revelaram-se contraproducentes.

O Chega tem agora doze deputados na Assembleia da República. Portugal conta no Parlamento com um partido populista, de convicções democráticas duvidosas e em boa parte saudoso do regime anterior ao 25 de Abril.

Mas porque haveria o nosso país de ser diferente do que se vê em tantos países europeus, onde existem partidos populistas, racistas e xenófobos, gozando de apreciável peso político?

Nós tivemos antes de 1974 uma ditadura que durou quase meio século. E de então para cá muitos adeptos desse regime não democrático, que depois não se converteram à democracia, permaneceram calados e discretos. Ou entraram em partidos democráticos, o que não foi saudável.

De facto, alguns dos saudosistas do “Estado Novo” ingressaram nas fileiras de partidos da direita democrática. Ora é preferível que cesse tal equívoco e que, como agora parece ser o caso, quem não aprecia a democracia liberal se acolha num partido não democrático. É uma questão de transparência política.

Os deputados do Chega devem ser tratados com respeito, porque foram eleitos. O que não implica, longe disso, aceitar as causas do Chega, que importa rejeitar com firmeza. Os próprios deputados do partido de Ventura não valorizam esse “pormenor”, de terem sido eleitos numa votação livre e justa. Mas quem é democrático deve dar valor a tal facto. Naturalmente que outra coisa seria cooperar com o Chega, algo inaceitável para quem preza a democracia.

Em vários países europeus barreiras políticas e até legais contra forças populistas de extrema-direita revelaram-se contraproducentes. Contribuíram sobretudo para essas forças se vitimizarem, assumindo o papel de perseguidas e assim poderem apresentar-se como combatentes pela liberdade.

Também certas proibições correm o risco de serem pouco inteligentes. É o caso, por exemplo, das leis que criminalizam a negação do holocausto, como acontece na Alemanha. Em vez de surgirem como um absurdo, negações desse tipo passam a gozar de um estatuto de “verdades proibidas”.

A democracia não se promove com proibições. Esse é um método próprio de regimes autocráticos, adversários da liberdade.