A dirigente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) acusou este domingo o Ministério de Saúde de "dar com uma mão e tirar com outra", após ter sido revelada uma das propostas que o Governo pretende apresentar aos sindicatos dos médicos na retomada das negociações hoje à tarde.
À Renascença, Joana Bordalo e Sá diz que a proposta apresentada, que passa por repor as 35 horas semanais nas urgências do Serviço Nacional de Saúde (SNS), ainda que condições não explicitadas, "é de uma gravidade extrema, uma vez que não responde de forma séria aos pontos por nós reivindicados para termos mais médicos no SNS".
"O que está implícito é apenas ainda mais trabalho para os médicos", refere a sindicalista, adiantando que a proposta também "não contempla a reposição da grelha salarial, a sua atualização" e prometendo "confrontar a equipa ministerial e fazer uma contraproposta à contraproposta" do Governo.
"Nenhum dos pontos é feito sem que haja um pressuposto de ainda mais trabalho a médicos que estão exaustos. Não se pode dar com uma mão para tirar com outra. De qualquer forma, adiantaremos mais pormenores depois da reunião."
Num documento enviado pelo Governo aos sindicatos dos médicos, a que a Lusa teve acesso este domingo, o Ministério da Saúde destaca que a redução do horário de trabalho dos médicos e do número de horas de atividade no serviço de urgência "não pode significar a diminuição de acesso a cuidados de saúde e da capacidade de resposta do SNS [Serviço Nacional de Saúde]".
Também ouvido pela Renascença, o presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) acusa o Governo de "estar totalmente insensível à situação que se vive um pouco por todo o país" no SNS.
"Um Governo que está no poder há oito anos, agora com maioria absoluta, ainda por cima disponibilizando uma carga fiscal como nunca ocorreu, a verdade é que nos parece que o Governo não aproveitou esta cedência que os sindicatos demonstraram, este sentido de responsabilidade que os sindicatos demonstraram, de fasear estas medidas que já fazem parte dos nossos cadernos reivindicativos há muitos anos, para calendarizar muitas destas medidas", refere Jorge Roque da Cunha.
Tal como a FNAM, o SIM também prometer "contrapropor" medidas, sublinhando que "é essencial mantermos total disponibilidade para chegar a um acordo que seja aceite pelos médicos".
"Não fazer qualquer sentido haver propostas e acordos a que, no fim do dia, os médicos não adiram", refere Roque da Cunha. "Por isso iremos fazer esta contraproposta e esperar que o Governo perceba que, se a situação se mantiver como está, as dificuldades e os problemas no SNS só se irão agravar, em vez de melhorar."