O sociólogo Daniel Seabra acredita que a operação “Pretoriano”, com 12 detidos, incluindo Fernando Madureira, o líder dos Super Dragões, está relacionada com o que aconteceu na Assembleia Geral dos dragões de 13 de novembro que terminou com agressões. Indiretamente, vê ligação ao ato eleitoral que se aproxima no clube azul e branco.
“Estou convencido que esta intervenção está relacionada, no seu núcleo essencial, com as agressões – para mim elas são flagrantes -, portanto, está relacionado com as imagens que todos pudemos observar na assembleia-geral do FC Porto e, portanto, estão relacionadas com o processo eleitoral, obviamente, porque temos de um lado Jorge Nuno Pinto da Costa, com décadas de presidência do clube, e do outro lado alguém que parece questionar muitos dos procedimentos e também da gestão de Pinto da Costa e já era previsível que teríamos um momento turbulento. E todos nós sabemos o posicionamento do líder da claque Super Dragões que é claramente defensor do Pinto da Costa. Face a isso é óbvio que estes factos estão relacionados com as eleições, não me surpreende minimamente”, referiu.
Em declarações a Bola Branca, este especialista no estudo de claques olha para aquela que deveria ser a relação mais correta e saudável entre a direção de um clube e as suas claques organizadas, em geral.
Entre os estudiosos há duas teorias maioritárias: “Aquilo que eu defendo na relação que existe entre as direções e as claques é uma perspetiva de transparência”.
“Há duas teses sobre o assunto: uma que defende que as claques de futebol devem apoiar o clube, por aquilo que ele representa para elas e, portanto, aqueles que a lideram e com ela colaboram não devem da sua atividade recolher qualquer provento financeiro. Há outra tese que defende que a liderança de uma claque e todos aqueles que apoiam as atividades de uma claque despendem muito tempo, os seus próprios recursos – telefones, tempo, gasolina – porque a logística em torno de um grupo organizado de adeptos quando fazem viagens implica tempo, implica gastos e há quem defenda que é perfeitamente legítimo que os líderes das claques possam ser compensados em termos monetários por esse trabalho”.
Qual é o problema desta segunda via? “Isto não está devidamente institucionalizado”.
Seabra deixa a sua visão: “A mim não me chocaria minimamente – até porque isso ocorreu noutros países. Era uma relação absolutamente transparente, com salários, descontos, com todo o processo financeiro institucionalizado”.
Não acontecendo isso, “por vezes cai-se num limbo de indefinição e de economia informal que muitas vezes tem o risco de resvalar para economia paralela que até poderá ser ilegal”.
Já quando as direções dos clubes não conseguem – ou têm dificuldades – entender-se com as claques, isso vai trazer “mais problemas do que benefícios”.
“O que estamos a assistir? Ao surgimento de grupos ‘casuals’, de indivíduos que abandonam as claques e circulam em pequenos grupos nas zonas circundantes do estádio que são responsáveis pela violência. Neste momento é o problema mais grave, violência muito mais perigosa do que a das claques e a polícia está muito preocupada com isso”, reforça Daniel Seabra.