O processo de candidatura dos escritos de Amílcar Cabral ao programa Memória do Mundo da UNESCO deverá ser formalizado em novembro, disse esta sexta-feira o presidente da fundação do líder das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Em declarações a jornalistas à margem do XI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, na cidade da Praia, capital de Cabo Verde, Pedro Pires referiu que a Fundação Amílcar Cabral “tem estado a trabalhar nesse assunto” com a “participação indispensável" do Governo de Cabo Verde.
Segundo o ex-presidente cabo-verdiano, o processo está a ser preparado também em conjunto com a Comissão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em Cabo Verde.
“Temos estado a fazer esse trabalho. Nós fazemos a nossa parte e eles fazem a parte deles. E, em princípio, os documentos estarão prontos para a sua entrega agora no mês de novembro”, detalhou.
Durante a sua intervenção no segundo dia do encontro de escritores, sobre o “Centenário e legado de Amílcar Cabral”, o ex-chefe de Estado referiu que a preservação dos documentos do líder histórico dos dois países “ficaria garantida” com esta classificação por parte da UNESCO.
Pedro Pires disse ainda que a fundação vai pedir àquela organização da ONU para apadrinhar as comemorações do centenário do nascimento de Amílcar Cabral, que se assinala em 2024, para “levar o mais longe possível esta celebração”.
Em março de 2002, o ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente, anunciou que o seu ministério iria assumir a responsabilidade institucional e os custos da candidatura dos escritos de Amílcar Cabral ao programa “Memória do Mundo” da UNESCO.
Pedro Pires congratulou-se também com o facto de o Governo da Guiné-Bissau se estar a associar às celebrações do centenário, saudando a “coincidência feliz” de a ministra da Cultura daquele país, Indira Cabral, ser filha de Amílcar Cabral, o que permitiu “o desbloqueio dos contactos" com as autoridades guineenses.
“Há uma coincidência feliz de termos como interlocutora a filha de Amílcar Cabral. Acho que isso é uma contribuição enorme […] e é uma garantia enorme também”, disse, referindo que até há pouco tempo não havia retorno por parte da Guiné-Bissau às propostas da fundação para uma parceria nas comemorações do centenário.
Além da candidatura dos escritos de Cabral ao programa Memória do Mundo, a fundação está a trabalhar nas comemorações do centenário do nascimento do seu patrono, cujo ponto alto vai ser em 12 de setembro de 2024.
A fundação, que tem como missão a preservação da obra e memória do seu patrono, criou em 2015 o espaço museológico Sala-Museu Amílcar Cabral, onde pretende dar a conhecer às gerações mais novas e aos turistas que visitam a cidade da Praia a história da luta de libertação liderada por Cabral.
Fundador do então Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que em Cabo Verde deu lugar ao Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), e líder dos movimentos independentistas nos dois países, Cabral foi assassinado em 20 de janeiro de 1973, em Conacri.
Questionado sobre qual é o grande legado de Amílcar Cabral, Pedro Pires foi perentório: “É a teimosia”.
“É teimosia, a persistência e a confiança e não é bem fé, mas qualquer coisa desse género. Se não fosse isso, eu não estaria cá”, disse.
Nos XI Encontros de Escritores de Língua Portuguesa, organizados pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), foi feita uma homenagem a Amílcar Cabral, com debates sobre o seu legado.
A UCCLA organiza os encontros juntamente com a Câmara Municipal da Praia, com o apoio da Academia Cabo-verdiana de Letras e da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores e da SPA - Sociedade Portuguesa de Autores e o encerramento de hoje conta com a presença do Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves.