Dois elementos da comissão de estudo para analisar a questão do acesso das mulheres ao diaconado, criada pelo Papa Francisco, em 2016, estão em Portugal para falar do tema em sessões maracadas para a Universidade Católica: esta quarta-feira em Lisboa e, na sexta, no Porto.
A teóloga norte-americana Phylis Zagano, autora do livro “Mulheres diáconos, passado, presente e futuro” (Ed. Paulinas), estuda a questão do acesso ao sacramento da ordem por parte das mulheres há mais de 20 anos. Em entrevista à Renascença, defende que “se até ao séc. XII havia mulheres no diaconado, não há razão para o impedir agora”. E Phylis Zagano acrescenta: ”Uma vez que agora se restaurou o diaconado como uma vocação permanente, faz sentido restaurar também o diaconado feminino.”
Confrontada com a impossibilidade do aceso das mulheres ao sacramento da ordem, esta teóloga refere que a sua posição “não tem nada a ver com poder, nem com feminismo, mas com ministérios, porque a Igreja precisa do ministério das mulheres”.
O sacramento da ordem tem três graus - diáconos, padres e bispos -, mas, apesar de o Papa Francisco ter confirmado a decisão de São João Paulo II de afastar as mulheres do sacerdócio, Phylis Zagano diz que, apesar de não ter estudado a questão das mulheres padres, “mas sim, durante quase 30 anos, a questão das mulheres no diaconado” conclui que “se os homens diáconos são ordenados, as mulheres diáconos também devem ser ordenadas, sob pena de a Igreja perder credibilidade.”
Por sua vez, o teólogo belga jesuíta, Bernard , sublinha a importância do diaconado feminino “desde o início do cristianismo, até ao século XII, ministério que, no oriente e no ocidente, se prolongou até aos dias de hoje, em igrejas cristãs não católicas”.
Pottier lembra que “com a recente introdução de diáconos permanentes na Igreja, mostra que se trata de um estado de vida consistente e não de um percurso para o sacerdócio”.
Interrogado sobre as múltiplas possibilidades de serviço que hoje milhões de mulheres têm no seio da Igreja, o teólogo belga diz que “é uma questão de variedade de vocações” mas, neste momento, “o principal entrave é o acesso das mulheres ao ministério ordenado”.
A comissão pontifícia a que pertencem, o padre Bernard Pottier e Phylis Zagano já entregou a Francisco um documento e esperam “que alguma novidade venha a sair do próximo sínodo dos bispos para a Amazónia, com a criação de novos ministérios”.
O jesuíta revela ainda que “nesta comissão, há muitas discussões, pois o Papa bem sabia que aqueles que escolheu nem sempre estavam de acordo, exatamente para medir a temperatura da Igreja e dos teólogos sobre este assunto”.