O Papa Francisco elogiou esta terça-feira o povo chileno e a sua tenacidade e capacidade para fazer frente a situações difíceis.
Num país muito dado a instabilidade sísmica, tendo sofrido 11 sismos nos últimos quatro anos, sete dos quais acompanhados de tsunamis, Francisco recorreu a esse exemplo para ilustrar o seu ponto. “Como é perito o coração chileno em reconstruções e novos início! Como vós sois peritos em levantar-vos depois de tantas derrocadas! A este coração, faz apelo Jesus; para este coração são as bem-aventuranças”, disse.
O tema das bem-aventuranças atravessou toda a homilia do Papa, que fez questão de sublinhar o facto de Jesus as ter pronunciado depois de se ter sentido interpelado pelos rostos da multidão que o seguia: “Não foram ideias nem conceitos que moveram Jesus; foram os rostos, as pessoas”.
“As Bem-aventuranças não nascem de uma atitude passiva perante a realidade, nem podem nascer de um espectador que se limite a ser um triste autor de estatísticas do que acontece. Não nascem dos profetas de desgraças, que se contentam em semear decepções; nem de miragens que nos prometem a felicidade num abrir e fechar de olhos”, disse Francisco
“Pelo contrário, as bem-aventuranças nascem do coração compassivo de Jesus, que se encontra com o coração de homens e mulheres que desejam e anseiam por uma vida feliz; de homens e mulheres que conhecem o sofrimento, que conhecem a frustração e a angústia geradas quando ‘o chão lhes treme debaixo dos pés’ ou ‘os sonhos acabam submersos’ e se arruína o trabalho de uma vida inteira; mas conhecem ainda mais a tenacidade e a luta para continuar para diante; conhecem ainda mais o reconstruir e o recomeçar.”
Igreja em crise no Chile
A posição dos chilenos perante a Igreja tem estado em queda-livre nos últimos anos. Quando o Papa João Paulo II visitou o país os níveis de confiança na Igreja situavam-se perto dos 80%, agora apenas 36 em cada 100 chilenos admite confiar na instituição e os números de frequência dominical também caíram radicalmente.
Mas o Papa recusou qualquer negativismo perante esta realidade. “As bem-aventuranças não nascem de atitudes de crítica fácil nem do ‘palavreado barato’ daqueles que julgam saber tudo, mas não se querem comprometer com nada nem com ninguém, acabando assim por bloquear toda a possibilidade de gerar processos de transformação e reconstrução nas nossas comunidades, na nossa vida”, disse.
Pelo contrário, Francisco sublinhou a importância de os católicos se envolverem na sociedade e serem construtores de paz. “Perante a resignação que, como uma rude zoada, mina os nossos laços vitais e nos divide, Jesus diz-nos: bem-aventurados aqueles que se comprometem em prol da reconciliação. Felizes aqueles que são capazes de sujar as mãos e trabalhar para que outros vivam em paz. Felizes aqueles que se esforçam por não semear divisão.”
Esta foi a primeira missa celebrada pelo Papa no Chile, onde chegou na noite de segunda-feira. Esta manhã decorreu a cerimónia de boas-vindas, com a presença das autoridades políticas e dos representantes diplomáticos, a quem o Papa voltou a pedir perdão pelos casos de abusos sexuais cometidos por padres.
Ao fim da tarde o Papa visita ainda uma prisão para mulheres e ao fim do dia, hora de Lisboa, encontra-se com padres e religiosos na Catedral de Santiago, seguido de encontro com os bispos, visita privada ao santuário de São Alberto Hurtado e, por fim, um encontro privado com os jesuítas que se encontram no Chile.
Francisco fica no Chile alguns dias e depois segue para o Peru, de onde voltará três dias volvidos para Roma.
Renascença no Chile e Peru com o Papa Francisco. Apoio: Santa Casa da Misericórdia de Lisboa